Brasília – O governo federal concluiu a desapropriação de um dos casos mais longos da reforma agrária brasileira: a Usina Catende, localizada na Zona da Mata de Pernambuco. Após uma demissão em massa em 1993, os trabalhadores tomaram conta do negócio produtor de açúcar e álcool e iniciaram um projeto de diversificação da produção, o que resultou em um exemplo de economia solidária com a associação dos agricultores em cooperativas.
A usina foi uma das maiores produtoras de álcool e açúcar do país, mas em 1993 demitiu 2,3 mil trabalhadores, que entraram na Justiça com um pedido de falência da usina para garantir seus direitos trabalhistas e impedir o fechamento da empresa. Em 1995, a Justiça decretou a falência da usina e os trabalhadores passaram a comandá-la, diversificando a produção no local, como plantação de feijão, banana e mandioca.
Nesta sexta-feira (13), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, assinaram três decretos de desapropriação de 24 imóveis da usina, que totalizam cerca de 23 mil hectares, de acordo com o MDA. Entre os beneficiados pela medida, cerca de 3,1 mil famílias de sem-terra e credores da usina.
?Quem conhece Catende sabe que é uma área emblemática. Já resolvemos muitos problemas como a fazenda Itamaraty, no Mato Grosso do Sul, a fazenda Sete Mil, no Paraná, e Maísa, no Rio Grande do Norte, por exemplo. Mas Catende é um símbolo para Pernambuco, para o Nordeste e para o Brasil em vista da luta dos trabalhadores no passado ligada à gestão do complexo econômico?, disse o ministro Guilherme Cassel.
Segundo o MDA, nenhum trabalhador da usina está inadimplente com o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Na cerimônia o atual gerente da massa falida da usina, Marivaldo Andrade, disse que a desapropriação da área ?é a concretização de uma luta de 13 anos, que contou com muita perseverança dos trabalhadores?. Andrade lembrou a visita feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de assumir a Presidência e disse que, em sua avaliação, a medida vai dar mais segurança aos trabalhadores do complexo.
Atualmente, de acordo com o MDA, o projeto de economia solidária da usina abrange seis municípios: Catende, Água Preta, Palmares, Xexéu, Jaqueira e Maraial. Na safra 2005/2006, as famílias que vivem no local produziram 625 mil sacas de 50 quilos de açúcar e 118 mil toneladas de melaço, com um faturamento de R$ 28 milhões. Seis mil operações do Pronaf custearam desde 2003 cerca de R$ 9 milhões.