O Uruguai, integrante do Mercosul que negocia um acordo bilateral com os Estados Unidos, tem motivos para se queixar do bloco, disse nesta terça-feira (29) o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e ex-ministro do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio, embaixador José Botafogo Gonçalves.
"Se o Mercosul não está funcionando é porque o Brasil no Mercosul não está funcionando; é porque a Argentina no Mercosul não está funcionando. Não vamos botar a culpa no Uruguai e no Paraguai, porque a capacidade de perturbação deles é menor", disse, referindo-se ao tamanho de cada economia, durante o seminário "Mercosul: discutindo a integração.
Botafogo defendeu que Brasil e Argentina negociem mais para manter o Uruguai no bloco. O embaixador lembrou que as duas maiores economias do Mercosul fecharam seus mercados algumas vezes a importantes produtos uruguaios, como no caso do arroz daquele país que, por decisão da Justiça brasileira, ficou alguns meses impedido de ser importado pelo Brasil.
Botafogo lembrou também a oposição da Argentina no caso da instalação de uma fábrica de papel e celulose no país vizinho, chamada em espanhol de papeleira. "A papeleira é 10% do investimento do Uruguai.
O embaixador voltou a defender o Mercosul. "Não dá para dizer que o Mercosul está morrendo se o Brasil está exportando US$ 10 bilhões para a Argentina." Também argumentou pela importância de o novo governo continuar estimulando o comércio exterior. "O novo governo tem que encontrar uma forma de passar o desempenho da economia de 2,5% a 3%, esse crescimento medíocre, para 5% e não acho que haja como fazer isso sem uma ação importante nas áreas de comércio exterior e inserção internacional", disse.
No entanto, ele afirmou também que as sociedades de cada país do Mercosul têm dúvidas acerca do interesse na integração. "Não estamos convencidos, como sociedade, que Brasil e Argentina têm que compartilhar a mesma estrutura macroeconômica, por exemplo.
Botafogo acha ainda que a permanência da Venezuela no Mercosul é de interesse econômico para o bloco. Ele recordou que "a história da entrada da Venezuela com Mercosul tem mais de dez anos." De acordo com ele, naquela época, quando Rafael Caldera presidia aquele país, o acordo não foi possível porque o setor privado venezuelano foi contra, temendo a concorrência de produtos brasileiros. "Não penso que os empresários venezuelanos tenham mudado de idéia", disse.
Ele levantou dúvidas se pode haver algum conflito por questões políticas já que só a Venezuela segue a democracia participativa e não a representativa, e pelo fato de os outros países, inclusive o Brasil, serem capitalistas. Segundo ele, isso pode ser resolvido. Ele também observou que a tendência é a de que as exportações brasileiras continuem crescendo para os Estados Unidos e que, se o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, criar dificuldade ao comércio com a maior economia do mundo, isso pode gerar problemas dentro do bloco.