Em mais um discurso eleitoral fora de época, o que é proibido pela lei, Lula disse a um largo grupo de petroleiros que no seu governo há urucubaca. Explicou que tem muita gente torcendo para dar errado. Recebeu muitos aplausos, inclusive manifestações de apoio para sua pretendida reeleição, enquanto um pequeno grupo de manifestantes do Movimento Juventude do PMDB protestava aos gritos de ?Lula, ladrão, devolve o mensalão?.
A festa era significativa, embora nem tanto quanto fazia crer o presidente. Estava anunciando a expansão em larga escada da frota de petroleiros da Petrobras. Uma iniciativa importantíssima, mas que está apenas gatinhando. O que agora se fez foi apenas anunciar a abertura das primeiras licitações que terão de embasar um projeto que, se sair, vai ultrapassar este e outros governos, inclusive um sonhado segundo mandato do próprio Lula.
Urucubaca, no caso, foi expressão usada erroneamente pelo presidente. A palavra significa (dizem os dicionários) má sorte no que faz ou intenta e embora venha de urubu, que come carniça e por muitos seja traduzida por mau agouro, os males de que se queixa o presidente nascem em seu próprio governo ou naqueles que o cercam. Se há cheiro de carniça, é ao redor do poder, seja o Executivo ou o Legislativo, em especial nas hostes que apóiam a atual chefia da nação.
À exceção das acusações de que houve caixa 2 em Minas Gerais, em eleições passadas, envolvendo o PSDB, o que foi considerado assunto ultrapassado, a carniça desta urucubaca e até mesmo de quem a denuncia, geralmente, é gente pró-governo petista, do governo petista ou dos partidos que o apóiam, a começar pelo próprio PT.
Preocupam sobremaneira as posições tomadas por Lula em relação à crise política e ética que abala a República. As ultimamente tomadas, pois, antes, posição nenhuma tomou. As atuais são de indulgência para os que abocanharam mensalões, montaram caixa 2, compraram apoios, manipularam concorrências públicas e fizeram advocacia administrativa, usando de seus cargos, poderes ou parentescos para beneficiar este ou aquele, um ou outro grupo. Por falta de investigações, que devem ser feitas e começar logo, não se sabe se assim agiram porque são bonzinhos ou para levar alguma vantagem pessoal, inclusive pecuniária. E aí estão, dentre outros, um irmão do presidente Lula, um filho de José Dirceu, um irmão do ministro da Fazenda e muita gente mais da curriola que todos os dias é desmascarada.
Lula, nas raras vezes em que se referiu à crise, com tanta displicência como se ela acontecesse longe dele e de seu governo, falava em punir todos os responsáveis, sem dó nem piedade. Hoje, prega a condescendência, a compreensão para com aqueles que não só feriram a lei, elegeram-se com financiamentos escusos e entraram nas mais malcheirosas urucubacas. E, como se voasse em céu de brigadeiro, lança-se candidato à reeleição, pretendendo o apoio das massas e também daqueles que provocaram esse mar de lama.
Não se afogou nem se abalou com ele. Pelo contrário, sobre ele navega com a esperança de recolher na nave do governo todos os que destruíram sua imagem ética e sua estrutura política e até administrativa.