A criação de universidades no interior do país poderá provocar um salto significativo na qualidade dos produtos e serviços dessas regiões. A avaliação é do vice-diretor do Instituto de Pesquisas e Estudos em Administração Universitária (Inpeau) da Universidade Federal de Santa Catarina, Pedro Antônio de Melo.
"A expansão da universidade certamente vem permitir com que outras regiões do interior do Brasil possam entrar na relação de regiões com maior desenvolvimento", afirmou o pesquisador.
A expansão das universidades públicas pelo interior do país é um dos objetivos da reforma universitária, elaborada pelo Ministério da Educação, que será apresentada hoje (29) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma pesquisa realizada por Melo e Luciana Florentino Novo sobre o impacto da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg) na vida da população do município constatou que a atividade acadêmica gerou avanços significativos.
"A nossa colega de pesquisa identificou que a universidade contribuiu significativamente para o desenvolvimento da região", afirmou Melo. "Essa tem sido uma prática em todo o plano, não só no Brasil, mas em todo o mundo", ressaltou.
Segundo Melo, o primeiro impacto é na formação qualificada de pessoal, o que provoca uma melhora direta nos serviços e na produção local. Além disso, a universidade também gera avanços tecnológicos através da pesquisa científica.
No caso da cidade de Rio Grande, Melo disse que a universidade foi responsável pela revitalização da atividade pesqueira. "A universidade incentivou a pesquisa em torno de novas tecnologias e isso certamente ajudou com que o porto do Rio Grande se transformasse em um dos grandes portos que temos hoje no Brasil".
Outro aspecto positivo da expansão do ensino superior no interior do país, na avaliação de Pedro Antônio de Melo, é a própria oportunidade de acesso à universidade. "Para se ter uma idéia 97% dos brasileiros entram no ensino fundamental e desses 70% já se perdem no ensino médio. E apenas 9% chegam até à universidade", afirmou Melo.
Pedro Antônio de Melo considera importante que a criação de novos cursos leve em consideração as necessidades e vocações da região. "Quando você trabalha o potencial da região existe sempre a possibilidade de haver um crescimento maior".
Melo alerta, no entanto, que essa não pode ser uma regra rígida. Segundo o pesquisador, quando o curso de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina foi criado, há 40 anos, não existia nenhuma indústria em Florianópolis. "Acontece que o curso de engenharia mecânica tem saído daqui da universidade, tem interferido nas regiões que ficam próximas que necessitam de profissionais formados em engenharia mecânica".