Um novo método desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) permite diferenciar, com maior rapidez e confiabilidade, sementes de soja natural, transgênica, orgânica ou nativa. Basta uma ou duas sementes para fazer o teste, que demora menos de dois minutos.

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"Não há probabilidade de falha", garantiu o pesquisador e aluno de pós-doutorado da Unicamp Rodrigo Ramos Catharino. De acordo com ele, as outras alternativas de teste, por biologia molecular ou seqüência genética, podem indicar o que ele chamou de falso positivo, caso ocorra mistura das sementes com outros cultivos. Além disso, o resultado pode ser interpretado por leigos.

Rápido – Catharino explicou que a rapidez é a principal vantagem do novo método, na comparação com os outros. A técnica despertou interesses. Produtores de algodão e milho entraram em contato com os pesquisadores solicitando que a identificação seja estendida a essas espécies. "Estamos trabalhando nisso", disse o aluno de pós-doutorado.

A Monsanto também enviou amostras à Unicamp para identificar bancos de varietais que pertencem à empresa. O lote está a caminho da universidade, comentou Catharino. Ele afirmou que o método dará maiores garantias a consumidores e agricultores sobre o produto.

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A adaptação do teste para avaliar outras culturas é simples, segundo o pesquisador. A equipe que desenvolveu o método se debruça agora sobre outro desafio, avaliar a qualidade das sementes de soja. Quanto mais isoflavonas, melhor a soja, explicou Catharino.

Ele lembrou que no Brasil já foram identificadas sementes com até 9 tipos de isoflavonas. Acrescentou que a qualidade não está relacionado ao fato de a soja ser transgênica natural, orgânica ou nativa – quando cresce sem nenhuma intervenção do produtor. "Há sementes de melhor qualidade nos quatro tipos", alegou.

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Como fazer – Para fazer o teste a amostra é triturada, misturada a água e álcool. A mistura vai para uma centrífuga simples por um minuto. O material não decantado é injetado em um espectrômetro de massas, que identifica a estrutura molecular da amostra. Os quatro diferentes tipos de sementes têm estruturas moleculares distintas.

"O resultado é um gráfico que pode ser observado e identificado, de acordo com a semente, por qualquer leigo", disse Catharino. As isoflavonas, conforme ele, atuam como marcador químico no processo. O método não foi patenteado dada a sua simplicidade. "Qualquer laboratório com um espectrômetro pode fazer a avaliação, não tem como patentear", justificou.

Mas o pesquisador comentou que o grupo pretende solicitar credenciamento nos Ministérios da Agricultura e da Saúde para fazer análises e implantar o sistema em laboratórios. O trabalho foi desenvolvido por Catharino, Marcos Nogueira Eberlin e Leonardo Silva Santos.

A produção de transgênicos é cercada de polêmica. O governo brasileiro autorizou o plantio de soja geneticamente modificada, mas a lei determina que os produtos transgênicos sejam identificados no rótulo. Para Catharino, a produção e comercialização dos transgênicos é irreversível. Mas ele defendeu a criação de um padrão de qualidade e de certificação para garantir segurança ao consumidor.