A União Européia (UE) aconselha o Brasil a se distanciar da posição da Índia nas negociações agrícolas da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou que pelo menos influencie Nova Délhi a modificar sua estratégia. De volta a seus escritórios em Bruxelas após um fim de semana no Rio de Janeiro para a reunião do G-20 (grupo de países emergentes) para debater como relançar as negociações, diplomatas europeus estão convencidos de que o Brasil não poderá continuar apoiando a idéia dos indianos de manter quase 20% de seus produtos agrícolas intocados em um eventual acordo comercial. "A posição indiana é insustentável", disse um funcionário próximo à cúpula da Comissão Européia.
O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, confirmou ontem que a reunião no Rio ainda não foi suficiente para aproximar posições entre os países. "O encontro foi importante para dar uma mensagem política. Mas temos uma longa experiência na OMC para saber que o caminho entre uma mensagem política e uma aproximação real das posições pode ser muito grande ainda", afirmou Lamy.
Um dos problemas é a falta de iniciativa dos americanos quanto aos subsídios. Sem uma oferta dos Estados Unidos que de fato corte a ajuda aos produtores, será impossível convencer os europeus a aceitarem um corte maior em suas tarifas de importação de bens agrícolas. Nesse tema, todos sabem que terão de esperar as eleições americanas em novembro para que nova proposta possa ser feita.
Mas outro problema que terá de ser resolvido, segundo os europeus, é a posição indiana, um dos países que, com o Brasil, forma a base do G-20. Numa reunião na segunda-feira na Fiesp, o comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, tentou convencer os brasileiros de que o País estaria perdendo uma oportunidade de mercado ao apoiar a idéia da Índia de manter barreiras a seus produtos sensíveis em mais de 220 casos.
A idéias dos indianos é de que produtos como açúcar, cereais e frango sejam considerados itens ‘sensíveis’ e, portanto, não entrem numa eventual negociação de cortes de tarifas.
Para funcionários na OMC, a questão do acesso ao mercado indiano e de outros países emergentes pode também convencer os americanos a aceitarem uma maior redução de seus subsídios, já que em troca ganhariam acesso ao mercado indiano para suas exportações. Kamal Nath, ministro do Comércio da Índia, insiste que a Rodada Doha é para a promoção do desenvolvimento, e não de acesso a mercado.
Em Bruxelas, a esperança agora é de que o Brasil se convença de que não pode manter a mesma posição negociadora da Índia no G-20 e consiga convencer Nova Délhi a adotar uma nova estratégia. O chanceler Celso Amorim teria informado à Mandelson que manterá reuniões do G-20 no fim de outubro e novembro e o tema dos produtos sensíveis seria discutido.