Brasília – A União Européia (UE) resistiu às pressões internas e não ampliou o embargo à carne brasileira, após confirmado o foco de febre aftosa no Paraná. Mesmo com a nova informação, a restrição permaneceu a mesma que vigora desde outubro: a Europa não importa carne bovina brasileira produzida apenas nos Estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Alguns países do bloco defendiam que o embargo fosse estendido a todo o País.
Funcionários da Embaixada do Brasil em Bruxelas comunicaram a decisão, por telefone, ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, no início da tarde. Rodrigues comemorou a "boa notícia". "A União Européia deu um exemplo positivíssimo; foi um voto de confiança no nosso trabalho", comentou o ministro.
Uma equipe do ministério negociou em Bruxelas para que a restrição não fosse estendida a outros Estados. Antes da primeira reunião, realizada ontem, era intensa a pressão de países membros para que a restrição comercial fosse ampliada para todo o País. O Brasil temia que o pedido fosse aceito, como reflexo da confirmação de um foco de febre aftosa no rebanho paranaense. Deficiências no sistema de rastreabilidade (certificação dos animais desde o nascimento até o abate) também poderiam sustentar o embargo total. "A União Européia estava avaliando a possibilidade de suspender todo o País", contou, aliviado, Rodrigues.
A restrição da União Européia para a carne bovina dos três Estados vale desde 12 de outubro, poucos dias depois de confirmado o primeiro foco de aftosa no País. O primeiro caso foi diagnosticado no município de Eldorado, no extremo sul de Mato Grosso do Sul. No total, são 29 registros da doença em 2005 sendo 28 em Mato Grosso do Sul e um no Paraná. Até agora, 52 países já impuseram algum tipo de limitação, parcial ou integral à carne brasileira.
O temor do Brasil era de que o bloco europeu seguisse o exemplo da Rússia. Depois de confirmado o foco no Paraná, no começo de dezembro, Moscou ampliou o embargo que estava restrito ao Mato Grosso do Sul para outros Estados. No caso de Mato Grosso do Sul e do Paraná, a Rússia não aceita, desde 13 de dezembro, animais vivos, carnes suína, bovina, aves, leite, além de todos os tipos de carne e produtos lácteos, insumos pecuários e rações para animais, bem como equipamentos para manutenção, o abate e o processamento de animais.
Para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, Goiás, São Paulo e Minas Gerais, o embargo russo vale para animais vivos, carnes suína e bovina e produtos de carne crua de suínos e bovinos. Uma vez contornado o problema com a União Européia, o ministro informou que será negociado o fim do embargo estabelecido por outros países, tais como Argélia e Chile, importantes mercados para o Brasil. Os dois países suspenderam as compras de carne bovina de todo o País.
Rodrigues disse que a discussão com as autoridades européias foi difícil. O encontro deveria demorar duas horas, mas acabou se estendendo por sete horas. "É uma grande vitória da área técnica do ministério", afirmou. Em 2005, as exportações de carne bovina superaram US$ 3 bilhões, vendas que foram efetivadas para 172 países.