O crescimento das cidades, o aumento do desemprego, a falta de oportunidade para as pessoas não habilitadas no mercado do trabalho, ampliou o quadro de atividades informais que mostram não apenas a criatividade do povo, como o oportunismo com a insegurança e o desconforto que o excesso de progresso nos oferece.
Nossas ruas estão repletas de veículos que disputam um espaço num estacionamento limitado. Primeiro vieram os estacionamentos regulamentados, que hoje exploram, sem qualquer fiscalização e com grandes lucros, a guarda de automóveis e veículos que circulam pelo centro de Curitiba e Região Metropolitana.
Também vieram os carrinheiros, as áreas reservadas para carga e descarga, os estacionamentos para motocicletas e principalmente as áreas regulamentadas, controladas pelo Estar. Cobra-se para estacionar nas vias públicas, em outras palavras.
E apesar desse último serviço, que é regularizado e controlado por órgão público, agora temos que conviver também com os chamados “flanelinhas”, mais uma atividade informal, não regulamentada no papel, mas que se tornou uma prática comum.
Os “flanelinhas”, como os ambulantes, que também já têm seus “direitos adquiridos” agora passaram a ser figuras comuns em nossas ruas, mesmo nas áreas regulamentadas.
Até a existência de pessoas que orientam e vigiam nossos veículos, tudo bem. Entretanto, a ousadia de alguns chega a ser estarrecedora. Muitos desses “flanelinhas” já se julgam donos das áreas de seu domínio, exigem gordas gorjetas para “vigiar” seu carro e ainda se dão ao direito de ameaçar motoristas, dizendo que “aqui não pode” ou ainda “quero tanto para que o seu carro fique aqui”. E isso não acontece apenas em horários de pico. Mas durante a noite e madrugada.
É uma atividade comum, entretanto não regulamentada. Alega-se que é mais um cidadão que está trabalhando e que se não dispusesse dessa atividade poderia se tornar um marginal ou coisa parecida.
Entretanto a falta de regulamentação, uniforme ou controle desses “trabalhadores” significa mais um risco para a nossa segurança. Aquele que não paga, resolve ignorar o “serviço” do flanelinha, certamente estará correndo o risco de ter o seu carro roubado, indicado a ladrões, com a cobertura do flanelinha, ter o pneu furado ou esvaziado, as travas forçadas e por aí afora.
E a nossa segurança pública não toma qualquer providência. O Executivo e o Legislativo fecham os olhos para essa atividade e permitem que ela se prolifere, como aconteceu com os carrinheiros que recentemente protestaram em via pública para ter incentivos oficiais para a sua atividade. Amanhã ou depois, esses marginais que se infiltram entre os guardadores de carros poderão também se organizar e sair às ruas em busca da legalidade ou ainda da subvenção pública para as suas atividades.
É preciso cortar o mal pela raiz. Criar uma lei que regulamente ou proíba essa atividade como forma de evitar que nela se infiltrem, como já acontece, os oportunistas e marginais que desviam a verdade finalidade que seria o trabalho, confundindo essa com a forma de ganho fácil. Lamentável que as chamadas ouvidorias públicas sejam passivas e apenas recebam denúncias. É preciso colocar um olho nas ouvidorias, para que vejam o que está acontecendo com o nosso povo. A nossa segurança continua em perigo.
Osni Gomes (osni@pron.com.br) é jornalista, editor em O Estado e escreve aos sábados neste espaço.