Djalma Filho

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O chamado amor romântico é recente, coisa de cem, duzentos anos, se tanto. Antes, os relacionamentos tinham como fundamento apenas interesses familiares e, principalmente, patrimoniais. Não se casava por amor, mas porque era bom para a família e ponto final. Casamentos duravam décadas e a separação se dava apenas com a morte (não havia outra opção).

Afinal, o que é o amor? Penso ser o amor um estado de espírito necessário à saúde mental e psíquica do ser humano. Amamos porque precisamos amar. Quando não amamos, murchamos, definhamos, amarguramo-nos. Assim, amar é muito mais importante do que ser amado. Quem não ama vive de mãos dadas com a tristeza. Mas nem tudo são rosas…

Apesar de tamanha importância, não escolhemos voluntariamente quem iremos amar. Essa tarefa cabe ao nosso sempre imprevisível inconsciente. Apaixonamo-nos por uma pessoa (ou por várias ao longo da vida) que nos complete emocionalmente ou, ao contrário, por alguém que nos atice as feridas mais profundas do nosso ser.

Freqüentemente os pais são a principal fonte inspiradora (positiva e negativa) para nossas escolhas amorosas porque justamente tentamos repetir (ou evitar) as experiências ocorridas nos relacionamentos intra-familiares (todos mal resolvidos por excelência).

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Não se pode esquecer que o ser humano vive em busca da repetição. Repetir-se é o desejo de todos. Basicamente vivemos tentando recriar sensações que, bem ou mal, representaram um dia fonte de prazer. E, de tanto nos repetir, criamos o hábito. E o hábito de amar dá segurança. Contudo, tanto nos relacionamentos duradouros como nos efêmeros, o tédio e a incompreensão estarão sempre presentes. Por isso, os amores têm altos e baixos. Nos períodos de baixa, hibernamos no mundo do individualismo (imaginando ou vivenciando realidades alternativas); nos períodos de alta, a simples vida do cotidiano a dois é suficiente para nos dar a plena satisfação.

E aí vêm as dúvidas fatais: ama-se por amar-se de verdade ou por mera inércia? Ama-se pelo encanto da companhia ou por medo da solidão? A resposta é simples e objetiva: ama-se, na verdade, por todas essas razões (e muitas outras) ao mesmo tempo.

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Dizem que para algo existir é necessário, sobretudo, que se acredite na sua existência. É muito provável que o amor romântico seja apenas mais uma bela invenção humana (uma doce ilusão), mas, para compensar as angústias dessa estranha vida que vivemos, amar ainda é o melhor remédio.

 Djalma Filho é advogado

 djalma-filho@brturbo.com.br