O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou na quinta-feira um estudo aprofundado da sociedade brasileira que assusta. A discriminação racial está tão entranhada no Brasil que barra até o caminho da população negra e parda capaz de superar outras barreiras sociais e alcançar altos índices de escolaridade. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2002, negros e pardos com 12 ou mais anos de estudo ganham 70% do salário dos brancos com igual nível de instrução. A diferença salarial é ainda maior nas regiões metropolitanas de Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Entre aqueles com menos escolaridade (até quatro anos de estudo), a situação não é muito diferente. Negros e pardos ganham 65,2% do rendimento dos brancos com essa escolaridade.
Na Região Metropolitana de Curitiba, os negros e pardos mais escolarizados ganham em média 56% do que recebem os brancos. Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, essa relação é de 57% e, em Salvador e São Paulo, de 58%. O exemplo de redução de barreiras raciais vem de Porto Alegre, onde a diferença é de apenas 5%.
Isso significa que, mesmo com a evolução do País, o preconceito continua ditando as normas do mercado de trabalho, infelizmente. Essas barreiras, porém, podem prejudicar, e muito, a evolução do Brasil. Ao mesmo tempo, uma pesquisa como essa pode nortear o governo federal. O poder público deve pegar detalhadamente tal estudo para desenvolver programas e projetos de curto, médio e longo prazos, para que tenhamos uma sociedade mais igualitária e, enfim, o País tente entrar no caminho certo. O principal ponto para que nos desenvolvamos é uma harmonia entre todos, independente de cor, raça e níveis intelectual e socioeconômico.
Por outro lado, a pesquisa do IBGE mostra alguns pontos positivos. Exemplo disso, a redução na mortalidade infantil. Em 2001, a taxa estimada foi de 28,7 óbitos infantis por mil nascidos vivos. Em 1990 era de 47,5 por mil.
Ao mesmo tempo, porém, a proporção de gastos com internações por causas violentas é quase três vezes mais alta nos grupos mais jovens, em especial de 15 a 19 anos. Enquanto a média de gastos com internações por causas externa é de 11% do total, de 15 a 19 anos chega a 28,5% e de 20 a 29 anos, é de 25,4%. As maiores proporções ocorrem na região Norte, onde os gastos chegam a 32% do total, nas idades entre 15 e 19 anos. No Sul, a percentagem é de 29% nessa faixa etária e no Paraná é de 28,9%.
Cabe então ao atual governo aperfeiçoar programas que estão dando certo, e desenvolver meios para que possamos combater tal desigualdade social, que é a marca do Brasil atual. E que o estudo não fique apenas estampado nas manchetes de jornais e sirva de base para o início de uma revolução na sociedade brasileira.
Anselmo Meyer (anselmo@pron.com.br) é editor de Cidades em O Estado.