Nos meus trinta e poucos anos de profissão nunca concordei com algumas formas (se bem que mais moderninhas) de determinadas emissoras de tv, de rádio e até mesmo jornais jogarem para o público certas notícias. Outro dia ouvi num recém-lançado programa de uma TV estatal, a apresentadora anunciar que “uma escola pública de Curitiba” estaria com problemas para abrigar os seus alunos. E dava uma série de informações sobre as dificuldades da tal “escola de Curitiba”. Fiquei sem saber, como todo telespectador, a que tal “escola de Curitiba” a reportagem se referia.
Já procurei com colegas saber o porquê da utilização desse “estilo” de informar. Alguns chegaram a explicar, que em se tratando de estabelecimento comercial é para não fazer propaganda de estabelecimentos, marcas e assim por diante.
É comum em noticiosos de rede nacional assistirmos o repórter dizer: “Pegou fogo nesta indústria de lingeries”, sem jamais dizer se foi na Du Loren, De Millus ou Valisère e assim por diante. Se foi um supermercado que caiu, nunca se vai saber se foi o Extra, Carrefour, Pão de Açúcar ou outro qualquer, onde aconteceu o acidente.
Fico agora imaginando como é que os cronistas esportivos dessa imprensa vão anunciar um jogo de futebol entre Coritiba e Paranavaí, pela decisão do campeonato paranaense, a partir do momento em que os clubes de futebol se tornarem sociedades anônimas e venderem suas marcas. Será como no título deste artigo? “Hoje jogam em Paranavaí, pela decisão do campeonato paranaense, um time Curitiba x um time de Paranavaí”
É estranho que o jornalismo de determinados órgãos de imprensa fiquem “engessados” nesses princípios, justamente quando se fala em ética, isenção, imparcialidade. E que determinados jornalistas se rebelem contra seus patrões em nome do que chamam de “liberdade de imprensa”.
Acho muito estranho que o repórter vá, por exemplo, nas Casas Bahia levantar dados sobre as vendas de final de ano, entrevistar um gerente e colocar na legenda de caracteres “gerente de loja”. E por que não colocar “gerente das Casas Bahia”? Afinal, não foi ali que o repórter obteve as informações para fazer sua matéria? Penso que é um total desrespeito ao informante e aos telespectadores, ouvintes ou leitores. Se fosse eu o gerente da loja, negaria a notícia para um repórter que pretendesse usar o nome da minha empresa para dar uma informação, mas não se dignasse a citar a fonte.
É por isso que muitos supermercados, shoppings e outros locais “públicos” proíbem que os órgãos de informação acessem, façam imagens ou tenham entrevistas sem prévio consentimento.
Posso estar mexendo num vespeiro. Mas é uma opinião própria, analisando o ângulo do telespectador, ouvinte ou leitor. Imagino que um órgão de comunicação, antes dos seus princípios comerciais, políticos ou seja lá o que o valha, tem a responsabilidade pública, o dever de ofício de atender ao seu principal objetivo que é o telespectador, ouvinte ou leitor.
Quero deixar claro aqui que não se trata de uma crítica ao profissional de imprensa, mas aos órgãos de comunicação que estabelecem “regras” e principalmente aos departamentos comerciais que “fixam limites”, impondo que “fulano ou beltrano” não é amigo da casa e portanto não é notícia.
Minha única estranheza é quando isso acontece com uma empresa estatal, onde o objetivo comercial não é a finalidade e onde não se veiculam comerciais.
Osni Gomes (osni@pron.com.br) é editor de O Estado e escreve aos sábados neste espaço