Curitiba e Região Metropolitana têm em torno de 200 mil desempregados, segundo o Dieese. Se essa região cresceu a taxas médias de 6% ao ano, elevando em muito seu Produto Interno Bruto, mesmo no período de recessão no Brasil, precisamos entender as causas dos problemas sociais e da criminalidade.
Em 1994, Curitiba e região tinham 1,6 milhão de pessoas aproximadamente. Passados 10 anos, têm em torno de 2,7 milhões. Aumentou muito a população, atraída pela propaganda de que a indústria automotiva e outras empresas internacionais de ramos produtivos diversos, beneficiadas por crédito e política fiscal, em detrimento de setores internos que acabaram quebrando, trariam emprego em massa e eram a alternativa para libertar o Paraná do sinônimo de estado agrícola. Sabemos hoje que usam alta tecnologia no sistema de produção, o que agrega pouca mão-de-obra e muito qualificada.
O setor público, como nos ensina Klaus Offe, se tornou num mero articulador da acumulação privada. Aqui, de poucos, é claro. Pois, se implantou um modelo de desenvolvimento que, de forma autoritária, não respeitou princípios básicos da democracia e da livre iniciativa, com a construção de uma sociedade com mercado fruto da concorrência leal, onde todos ganhassem. O que não é novidade para ninguém, pois um modelo de desenvolvimento autoritário sempre traz benefício para poucos, vide o modelo de desenvolvimento no período autoritário no Brasil, que apresentava altas taxas de crescimento com miséria, desemprego e trabalho precário, e por isso ruiu.
Mas além do impacto sobre a população e o setor empresarial, o setor público também foi atingido. Para se ter uma idéia do que isso gerou, Almirante Tamandaré, por exemplo, tinha 50 mil pessoas em 1994 e hoje tem 100 mil pessoas. Só que o orçamento per capita da Prefeitura em 1994 era de R$ 300 e continua em 2004 nos R$ 300, num período em que a inflação foi de 70%. Ou seja, o orçamento per capita baixou. Assim, não estava preparada para oferecer infra-estrutura e equipamentos públicos para receber a população.
Já os municípios que receberam as empresas e as grandes plantas industriais têm um orçamento per capita para investimento em torno de 1.200 reais por ano, o que mostra o desequilíbrio na implantação do modelo de desenvolvimento, também junto ao setor público.
Assim, o processo de implantação do modelo de desenvolvimento e de atração de investimentos sem a participação da sociedade foi mal planejado e só beneficiou uma pequena parcela do setor empresarial, gerando uma ocupação territorial desordenada, com altos índices de desemprego, o que trouxe aumento de criminalidade, moradia precária em lugares impróprios (mananciais), degradação ambiental, e pegou os municípios, na sua grande maioria, despreparados para esse quadro.
E por esse cenário de verdadeiro crime social que Curitiba está rodeada e nos traz graves conseqüências atuais e futuras, pois as projeções dos institutos apontam para a continuidade do crescimento populacional, é que devemos fazer a reflexão do tema, pois não é possível mais ver pessoas iludindo a população e propondo como solução simplista somente mais polícia, como se o problema fosse somente de segurança. Esquecendo que isso tudo é fruto de um erro na política de crédito, fiscal, de modelo de desenvolvimento e de planejamento.
Com a retomada do crescimento econômico, fruto da implementação de novas políticas fiscais e de crédito dos governos federal e estadual, têm sido gerados muito mais empregos. Fruto da participação conjunta do governo, trabalhadores e empresários na construção de um novo modelo de desenvolvimento democrático. Mas, sem demagogia, sabemos que apenas começamos a corrigir os erros. Pois temos consciência que um novo modelo de desenvolvimento de feição democrática não se implanta por decreto. E um velho modelo de desenvolvimento não se enterra do dia para a noite numa vala comum. Como muitas pessoas têm sido enterradas ou prisionadas em razão do modelo de desenvolvimento implantado aqui.
E por isso não podemos aceitar que se venda a ilusão simplista que o problema só se resolve com polícia. O problema é de política. E da falta de ter sido implantado um modelo de desenvolvimento tendo como método o exercício da política democrática.
Geraldo Serathiuk, advogado, é delegado regional do Trabalho do Paraná.