Um ano atribulado do ponto de vista da economia a ser lembrado por muito tempo, quando o desejo da maioria seria esquecê-lo para sempre. A taxa Selic caiu de 19,75% para 13,25% ao ano desde setembro de 2005, deixando o juro básico no patamar mais baixo dos últimos 20 anos. Mas, nem assim a economia cresceu em 2006 na proporção do corte de 6,5 pontos percentuais da Selic. O crescimento de 2,76% do PIB é o demonstrativo cabal dessa frustração.
Para economistas com trânsito livre nos círculos decisórios do âmbito financeiro, a maior parcela de responsabilidade deve ser atribuída ao Banco Central, que agiu muito lentamente na redução dos juros, contrariando não apenas expectativas favoráveis, mas as evidências concretas de que a queda dos juros em níveis coerentes com a realidade econômica decerto teria contribuído para um resultado bem mais elogiável.
A prudência exagerada do Banco Central contaminou a força endógena da economia e restringiu o crescimento do PIB, ao passo que a taxa inflacionária ficou abaixo da meta estabelecida. No começo do ano a expectativa de crescimento era de 3,5% a 4%, mas o PIB fechou o ano abaixo de 3%, ficando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na casa dos 3%, muito aquém do centro da meta de 4,5%.
Na visão do economista Rogério Mori, da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de São Paulo, um dos mais respeitados centros formadores do pensamento econômico do País, ?o Banco Central superestimou o ritmo da atividade econômica e subestimou o comportamento benigno da inflação?. Daí o desfecho pífio de 2006, rebento inevitável do arrocho monetário que se prolongou de setembro de 2004 a maio do ano seguinte.
Com a subida da Selic em 2004, o Banco Central interrompeu um ciclo ascendente do investimento produtivo, contrapondo a política de valorização do câmbio. Mesmo com o retorno do crescimento dos investimentos na indústria de máquinas e equipamentos e na construção civil, este ano, a trava usada lá atrás pelo BC inibiu o mecanismo estimulado das inversões. Dessa forma, o juro alto acabou derrubando o dólar. A análise econômica pode ser antipática e, na maioria das vezes tem sido dessa forma, mas não há como contestar os números atuais da nossa realidade.
A valorização do câmbio favoreceu o aumento da taxa de importações em relação às exportações, refletindo uma demanda externa de conseqüência negativa sobre o crescimento da economia. A decisão tomada então pelo BC, numa época em que não havia inflação de demanda suficiente para justificar a medida ortodoxa do aumento dos juros, hoje traduz a decepcionante curva de expansão do Produto Interno Bruto brasileiro, em desempenho contrário ao ciclo de crescimento sustentado da economia mundial e, em particular, de parceiros latino-americanos como Argentina, Chile e México.
Além da reduzida eficiência da política monetária adotada pela administração federal, há ainda o fantasma restritivo da carga tributária de 38% do PIB sobre a atividade econômica e a competitividade do País no mercado externo. Por óbvio, o ambiente de negócios passou a sofrer com a falta de estímulo para investir, num cenário caracterizado por gastos correntes elevados e a facilidade com que se aciona a máquina arrecadadora para financiar as despesas.