Os dois candidatos à Presidência da República encerraram seu último enfrentamento, ontem (27) à noite, no debate da TV Globo, com momentos duros: eles bateram boca, recorreram a palavras pesadas e a insinuações maliciosas em suas respostas. Acusado de deixar prosperar o PCC em São Paulo, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) chegou a afirmar que ?o PCC não é ligado a meu partido, não, não, não?; antes, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) provocou: ?Se ele cuidou da segurança como diz que cuidou, o resultado é que a maior quadrilha de gangue estava dentro da cadeia.
Alckmin replicou com mais dureza ainda: ?A quadrilha do PCC está em penitenciária de segurança máxima, mas a quadrilha que o procurador-geral denunciou está toda solta.? O duelo final das eleições de 2006 esquentou quando Lula, já no fim do debate, fez uma provocação a Alckmin, dizendo que ele ?deixou nascer o PCC? e pediu que contasse para o povo ?de onde vem o dinheiro? para as muitas propostas que apresenta para a área da segurança pública.
Alckmin replicou com uma verve que não lhe é comum: ?Quando o candidato Lula perguntou de onde vem o dinheiro, eu pensei que ele fosse explicar para você?, disse, dirigindo-se aos telespectadores?, ?de onde veio o dinheiro do dossiê Vedoin.?
Bom de improviso, Lula retrucou: ?O dinheiro, você sabe de onde veio. Foi uma secretária-geral do PSDB de uma cidade de Minas Gerais que mandou o padeiro mentir?, afirmou, referindo-se a Roseli Pantaleão, secretária-executiva do PSDB de Pouso Alegre (MG), que orientou Luís Armando Silvestre Ramos – que não é padeiro – a dizer à Polícia Federal que levara de Minas parte do dinheiro apreendido com petistas em São Paulo.
E foi além em seu ataque final, afirmando que o governo Alckmin gastou R$ 1.800 por criança, por ano, na Febem paulista, para fazer ?uma casa de produção de criminosos?. Alckmin contra-atacou com energia: ?Eu não passo responsabilidade para os outros. O sonho de Mário Covas era reduzir o número de homicídios em São Paulo pela metade. Pois caiu 54%, e isso não é só número, é gente que está deixando de morrer.? E cutucou Lula: ?Eu não cortei dinheiro do Fundo Penitenciário?, disse, repetindo uma crítica que faz constantemente ao petista.
Alckmin perguntou a Lula por que todas as pessoas que perguntaram aos candidatos relataram problemas. O petista respondeu: ?As coisas que estão acontecendo é o governo federal, que coloca dinheiro.? E completou: ?Não existe hoje neste país um programa social que não seja do governo federal, tirando os cento e sessenta mil qualquer coisa aí do Alckmin. Cada brasileiro sabe que não é possível consertar em quatro anos o que não foi feito em quarenta.?
Incisivo, Alckmin cobrou a menção irônica de Lula aos ?cento e sessenta qualquer coisa aí do Alckmin?. E disse: ?Precisamos ser mais respeitosos. São 160 mil pessoas que recebem o Renda Cidadã programa social do governo de São Paulo, não são cento e sessenta e qualquer coisa.
Lula disse que não criou os programas sociais que são a marca principal de seu governo ?por criar?: ?Criei porque o movimento social organizado exigiu que fosse criado.? E fez uma promessa: colocar mais 300 mil jovens no ProUni nos próximos quatro anos, se for eleito.
Ao final, Alckmin pediu aos eleitores que ?não troque o certo pelo duvidoso (slogan de Lula) é medroso?. Ao final de uma hora e 49 minutos, os dois candidatos se cumprimentaram amistosamente no meio da arena onde debateram, aliviando a impressão da troca áspera de palavras.