A Universidade Federal do Paraná (UFPR) está convocando 115 dos 573 vestibulandos que conseguiram passar como cotistas para entrevistas. Eles têm de comprovar a ascendência negra. Regina (nome fictício), de 19 anos, quer ficar com uma das vagas destinadas a negros (foram oferecidas 20% do total). "Me considero parda e declarei isso", disse a estudante, que pediu para não ser identificada. Segundo ela, uma das avós é negra.
Eram 122 , mas sete candidatos desistiram antes de se submeter à entrevista. "Fundamentalmente interessa-nos a aparência física, mas também buscamos um pouco da história de vida", explicou a coordenadora da comissão, Dora Lúcia de Lima Bertúlio, que é procuradora-chefe da UFPR e negra. "Tem-se que identificar aquele que pertence ao grupo negro e que devido a isso é discriminado."
A comissão tem 12 pessoas que se revezam. Os estudantes são entrevistados por sete deles – quatro dos movimentos sociais negros e três da universidade. Regina é uma das aprovadas no curso de Farmácia, mas somente terá o resultado homologado se convencer os membros da comissão. Hoje pela manhã, antes de entrar na sala da entrevista, confessava estar "muito nervosa". "Acho que esse processo nos discrimina", criticou. "É um pouco humilhante."
Para não sofrer muito preconceito ela afirma que alisa os cabelos e procura não tomar muito sol. Mas lembra-se apenas do pai de um ex-namorado que a discriminava. "Ele perguntava se eu não achava que tinha tostado demais", disse.
A UFPR ofereceu 831 vagas para os cotistas. No entanto, apenas 573 vestibulandos conseguiram a nota mínima. Segundo a coordenadora da comissão, no momento da matrícula era feita uma primeira triagem visual. Nesse processo 451 foram considerados aptos para as vagas imediatamente. Dos que restaram, 115 fizeram pedido de revisão. "Temos que ser rígidos senão inviabiliza para o próximo ano", disse o reitor, Carlos Augusto Moreira Júnior.