Tudo pelo poder

O governo Lula, que não é pior nem melhor do que muitos que já sofremos, caracteriza-se pelo fato de que faz de tudo para se manter no poder. Há poucos dias, para acalmar os petistas ortodoxos, que não se conformam com a política econômica que contraria tudo o que o partido pregou por mais de vinte anos, a direção do partido explicou que é tudo provisório. Que a política, que bem merece o título de neoliberal, vige por enquanto, mas que é um preparo para uma administração futura voltada para o social, num país que ande pelas próprias pernas. Um governo socialista, talvez, pois foi sempre o prometido.

Acontece que uma política econômica se constrói num certo sentido e baseada numa determinada programação, para não dizer ideologia. Mudá-la só é possível com uma revolução ou um golpe de Estado, o que nos parece não ser a intenção dos atuais homens do governo. Assim, cede-se no campo econômico para se garantir no poder. Também para isso, o governo fez as mais estranhas alianças, a começar pelo entendimento pré e pós-eleitoral com o PL, ideológica e programaticamente uma agremiação que é paradoxal em relação ao petismo. E o que dizer da aliança com o PP de Maluf?

Agora, assiste-se na televisão o PL volta e meia fazendo oposição escancarada ao governo do qual participa e de cujas responsabilidades partilha. Veja-se a propaganda dos empréstimos para aposentados e pensionistas. Em seus horários gratuitos na TV e nas emissoras de rádio, porta-vozes de expressão do Partido Liberal atacam tal programa, advertindo a clientela visada de que não deve tomar esse dinheiro. Argumenta que não deve porque os juros são escorchantes. Além de não ser compreensível o principal aliado do PT atacar um de seus principais programas, menos entende-se ainda que use de argumentos como o de que os juros são escorchantes, quando, se cotejados com os cobrados pelo mercado, são módicos. Vale até a demagogia para comer as entranhas do governo com o qual partilha o poder.

Nem nos lembremos da demagógica peregrinação a Roma, com a morte do papa, pois igual a isso fizeram outros governos, inclusive não cristãos.

Talvez a conduta menos ética que se pratica para garantir o poder, num governo que não tem maioria sólida no Congresso, como o PT, seja o ?toma-lá-dá-cá?, essas barganhas freqüentes para garantir votos até mesmo de tradicionais aliados e correligionários descontentes. Mas éticas não são também as alianças permanentes ou ocasionais que são costuradas, pois elas, embora garantam vitórias parlamentares pontuais, custam a doação de ministérios, negação de princípios e afirmação de diretrizes que sempre foram abominadas.

Esperam os petistas ortodoxos e esperamos nós que venha o milagre: o dia da virada, quando teremos um governo trabalhista e não uma imitação barata das saladas programáticas e ideológicas que sempre atrasaram este País.

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