Não há como esconder o clima pré-eleitoral instalado no País. Prematuramente, tanto as forças situacionistas quanto a oposição já se movem no sentido da reeleição de Lula ou sua substituição por algum candidato das forças que com Fernando Henrique Cardoso governaram o País por dois mandatos. Analistas e especuladores com suas bolas de cristal refletindo cenários imaginários vêem possível e até provável a candidatura FHC para enfrentar Lula, que admite querer a reeleição.
O quadro político, olhado com isenção, não confirma tal cenário. Ao que tudo indica, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não ficará fora da disputa, mas como cabo eleitoral ou até líder de campanha, sem disputar o cargo. Sabe ele que, depois de dois mandatos e já com idade avançada, está política e fisicamente desgastado para almejar a Presidência da República outra vez mais. Não é outra coisa o que se deduz do que foi dito no Encontro Estadual do PSDB, realizado em São Paulo.
Naquela oportunidade, Fernando Henrique lembrou a vantagem que supõe tenha o PSDB de ter mais de um pré-candidato pronto para obter bom desempenho nas urnas. ?Qual o partido que pode citar pelo menos cinco nomes à Presidência?? – perguntou. E respondeu: ?Só o PSDB?.
Isso foi dito na presença do governador paulista Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB mais visível e que governa o mais populoso estado da federação. Parte, portanto, de uma posição vantajosa em relação aos demais candidatos oposicionistas. Acresce que é tido e havido como um administrador equilibrado, comedido nas palavras e capaz de captar amplas simpatias.
Desta feita, entretanto, Alckmin fugiu um pouco de seu estilo diplomático para atacar de frente o PT e o governo Lula, o que denuncia o início de um debate mais aguerrido.
O clima cordial entre o governo e a administração peessedebista de São Paulo parece estar acabando. Alckmin disse que ?a última prefeitura de São Paulo foi desastrosa e estamos arrumando a casa?, numa clara referência à gestão Marta Suplicy e numa declaração explícita de guerra ao PT e ao governo, que apoiou abertamente a ex-chefe do Executivo paulistano, até saindo dos trilhos em que a legislação eleitoral o confinava para intervir na campanha.
Alckmin enfatizou o compromisso de seu governo e do PSDB com a ação, criticando o marketing do governo do PT. E encerrou o seu discurso convocando o público para um grande debate e a retomada nacional do ?jeito tucano de governar?. Aí também fez marketing. Acredite nele quem quiser.
Mas FHC foi incisivo, dizendo em favor da candidatura do PSDB e contra a reeleição de Lula o que o diplomático Alckmin não ousaria dizer: ?O governo atual mais parece um peru bêbado em dia de Carnaval?, disse ele, num ataque irônico e até perverso ao situacionismo. Só não disse que pareceria bêbado em vésperas de Natal. É o peru que morre na véspera e isso pareceria o golpismo insinuado pelo ministro José Dirceu…