Troca de perdões

O novo presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, conta que não há consenso entre os senadores petistas sobre dever o partido de Lula processar o senador Eduardo Azeredo, até há poucos dias presidente nacional do PSDB. Azeredo, que recebeu ajuda de caixa 2 na sua campanha para governador de Minas Gerais, em 1998, tem bom conceito entre os seus colegas, mesmo os de outros partidos, e jura de pés juntos que não sabia de onde vinha, quanto vinha e se era legal o dinheiro que financiou sua fracassada campanha. Mas não é só o conceito de Azeredo que embasa o movimento pelo perdão. Também o desejo de que a condescendência sirva para apaziguar os ânimos. Embora as cúpulas do PSDB e do PFL já tenham recomendado cautela para que as batalhas não se travem frontalmente, virando guerra demolidora, ainda há quem ponha lenha na fogueira. E não por imaginação, pois há efetivamente fogueira e sobra lenha.

Exemplo é a decisão de entregar o assunto ?dinheiro de Cuba? à investigação do Tribunal Superior Eleitoral, sem que a oposição mande investigá-lo pelo Ministério Público ou por Comissão Parlamentar de Inquérito.

Mas nem só de tapinhas nas costas e sorrisos de esguelha, sem ranger de dentes, vive o ambiente político de Brasília. Além das ameaças de agressão pessoal a Lula feitas por oposicionistas que se sentem ameaçados e o medo de uma deputada petista de que possa ser seqüestrada, agora surge uma nova versão da origem de grande parte do dinheiro do caixa 2 que, se verdadeira, será muito difícil de evitar que reacenda a fogueira.

O deputado Osmar Serraglio, do PMDB do Paraná, presidente da CPMI dos Correios, a mais abrangente das comissões de inquérito, corrigiu declarações que fizera de que o dinheiro que passou pelo ?valerioduto? e foi para o PT e seus aliados saiu de uma estatal. Agora afirma que o dinheiro saiu da Visanet. A Visanet opera com o Banco do Brasil e teria feito repasses ao empresário mineiro Marcos Valério. Esse dinheiro abastecia o PT e, através dele, seus aliados.

Foram dois repasses: o primeiro de R$ 35 milhões e o segundo de R$ 23,3 milhões.

Serraglio afirma que a SMP&B, empresa de Marcos Valério, tem um contrato com o Banco do Brasil e a conta de publicidade inclui a conta da Visanet.

Nesse esquema, a Visanet pagava a Valério por serviços de publicidade ?em valores injustificáveis?, afirma Serraglio.

Esse dinheiro era investido por Valério no Banco Rural e no BMG e, posteriormente, destinava-se ao PT por meio dos empréstimos anunciados pelo tesoureiro do partido, Delúbio Soares, e pelo próprio Valério.

?São empréstimos documentados como empréstimos, mas que têm duplo episódio duvidoso: num primeiro momento, o dinheiro foi despejado dentro do banco para repassar aos sacadores e num segundo momento o banco não cobra?, afirma Serraglio. E acrescenta: ?Não tem lógica. É um empréstimo de fachada, é para esquentar o dinheiro?.

A ser verdade mais esta, fica bastante difícil que da boa vontade e do desejo de renúncia às agressões surja o fim da crise, a bonança.

Revelada e comprovada a negociata denunciada pelo presidente da CPMI dos Correios, vai faltar cacife para as forças do governo. E a briga continuará.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo