Trio de árbitros

Há coisas que acontecem neste País em desenvolvimento que desmentem as estatísticas que já o colocam em posição de algum destaque entre as economias do mundo. Pode ser que sejamos de fato, em termos de Produto Interno Bruto (PIB), a sétima economia do mundo. Ou a décima, como pretende o ministro Guido Mantega, embora se saiba que são posições considerando produto bruto, e ainda temos uma bruta pobreza. Mas pobre mesmo parece ser a nossa política. Todos os dias temos de abordá-la com rubor, pois não são poucos os episódios que nos envergonham e os descaminhos que nos subtraem as esperanças de que estejamos mesmo caminhando para uma verdadeira e decente democracia.

Um desses ângulos abordados foi sobre a guerra de baixo nível que os partidos ditos aliados, condôminos do edifício ?balança, mas não cai? em que se converteu a administração brasileira, estão travando. Brigaram e ainda brigam por ministérios, numa repartição em que não são considerados programas e ideologias, mas apenas as armas com que conta cada integrante da coalizão para abocanhar os mais altos cargos. Depois, referimo-nos à refrega pelos cargos menores, mas que ainda são grandes o suficiente para despertar cobiças e apetites nem sempre confessáveis. O presidente Lula chega a ver o seu governo ameaçado por aqueles aliados que, se não forem atendidos nas nomeações que reivindicam, falam em romper ou obstruir os projetos governamentais quando e se existirem.

Já não basta o apequenamento do PT, o partido de Lula, que está no governo mais figurativamente que como verdadeiro partícipe. Nem o fato de a administração ter passado em sua maior fatia para o PMDB, que até há poucos dias estava dividido entre os pró e os contra Lula. Agora obriga-se o presidente a organizar um trio de arbitragem para mediar os conflitos que surgem todos os dias e a toda hora na disputa para preencher os cargos do segundo escalão. É composto pelos ministros Walfrido Mares Guia, das Relações Institucionais; Dilma Rousseff, da Casa Civil, e Paulo Bernardo, do Planejamento. Em princípio, parece uma boa solução, pois afasta do presidente a discussão da nomeação de chefias de departamentos, secretarias nacionais, autarquias, estatais e bancos públicos, fazendo com que os embates se travem antes e só cheguem a ele os resultados, se é que serão conseguidos.

Acontece que, com a melhor das intenções, Lula deu ordens para que esse trio de arbitragem conduza tudo de forma a que a pirâmide do governo não seja montada na base da ?porteira fechada?, ou seja, um ministério de um determinado partido poderia colocar em todos os cargos abaixo do ministro só seus correligionários. Os candidatos de outros partidos que se virassem arrumando empregos nos ministérios encimados por ministros do seu próprio partido. Um ministro do PMDB, por exemplo, e o resto da turma abaixo dele exclusivamente de peemedebistas. Cada vez que surgisse a necessidade de dar emprego a algum apaniguado de outra agremiação situacionista, ele seria encaixado onde houvesse vaga; e se for num ministério de outro partido, este que o engula. A solução é correta, pois dilui um pouco essa estrutura de condomínio, transformando o governo numa salada que pode ser melhor ou pior temperada, conforme possam ser ou não atendidos gostos e apetites.

Mas a fórmula tem seus inconvenientes, o principal dos quais é romper com a hierarquia. Exemplo: se um presidente de estatal do organograma de um partido não pertence à mesma legenda do ministro, num caso de desentendimento pode dar uma banana ao chefe. Não é seu indicado e sim de outro partido. Aí, a guerra miúda vai transformar-se em graúda e a casa pode cair.

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