Senão ignorância, há no Brasil falta de hábito e habilidade para caminharmos pelos meandros do mercado financeiro e de capitais. Este sempre foi um país de governo paternalista. Paternalista, porém não exatamente. Freqüentemente, padrasto. Não há mercado mais sensível, mutante e dependente de fatores imprevisíveis que o financeiro e de capitais. Talvez não haja outro, também, tão globalizado. E aí, não há como evitar, pois o dinheiro já provou que não tem fronteiras, apenas se negando a entrar onde não haja rentabilidade e segurança compatíveis com as expectativas dos investidores. O Brasil tem de, nesse mercado, ser competitivo, para atrair recursos e, quando possível, para participar do jogo como investidor. A idéia de auto-suficiência é uma quimera. Nenhum país, nem mesmo os mais poderosos da terra, são totalmente auto-suficientes. Serão dependentes de alguma forma, em algum setor e em certa medida de outros países e do mercado global. E isto acontece não de agora ou desde que MacLuhan escreveu a sua Aldeia Global. Não é preciso retornar muito no tempo. Recordemo-nos do Império Romano-Germânico, quando Carlos V se socorria em uma casa bancária alemã para sustentar suas conquistas. Ou do papel desempenhado pela família Rotschild, que cresceu dominando as finanças do Velho Mundo, agindo como banqueiros em diversos países, enquanto estes se debatiam em guerras. Este é um setor em que o nacionalismo mais se limita a “slogans” que à acumulação de capitais próprios.

Armínio Fraga tem sido duramente combatido por defender a independência do Banco Central, que preside, e porque teria dito, na poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, (Fiesp), que o nosso País precisa de trinta meses para que a situação melhore e o risco-país caia. A independência do Banco Central tem sido combatida praticamente por todos os candidatos à Presidência da República. Mas precisa ser debatida com mais seriedade e serenidade. De preferência, com a serenidade que esperamos venha depois das eleições. Essa independência, adotada pelos países desenvolvidos, visa impedir a ingerência política em assuntos como o câmbio e outros em que só podem influir artificialmente, mantendo permanente ambiente de insegurança.

Fraga, em nota à imprensa, procurou esclarecer o que disse, negando que as coisas só vão melhorar em trinta meses.

No seu entendimento, as coisas começam a melhorar na hora em que o Brasil começar a agir com coerência, determinação e coesão. “O Brasil deve ter como objetivo chegar à categoria de baixo risco (“investment grade”), de forma a aumentar o grau de segurança econômica para a sociedade, estimular o crescimento e permitir uma melhor administração dos ciclos econômicos.” Para isso, estimou aquele prazo de trinta meses. A melhora começa a partir da assunção do compromisso. Lembremo-nos de Guevara: o caminho começa ao caminhar. Ou Mao Tsé-tung: a grande marcha começa com o primeiro passo.

Para o presidente do BC, é preciso reforçar os compromissos com a preservação dos fundamentos de responsabilidade fiscal e monetária da economia brasileira, pois “é consenso no mundo que esses conceitos não são ideológicos ou partidários, mas, sim, formam uma base mínima necessária para a condução de um projeto de desenvolvimento para o país”.

É inescapável. Quem quer que seja o novo presidente, terá de cumprir compromissos com o mercado. Se não, o Brasil ficará fora do mercado, o que não será uma posição isolada. A Argentina e alguns países paupérrimos africanos já estão. Mas será isso o que queremos?

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