Tratamento do tabagismo inclui palestras e prescrição de medicamentos

O tratamento para o fumante que quer largar o cigarro começa com uma triagem para saber do grau de dependência química do paciente e até que ponto ele está interessado em parar de fumar. Médico pneumologista, Ricardo Meireles, coordenador das ações anti-tabagismo do Instituto Nacional do Câncer (Inca), disse que a conduta leva o nome complicado de abordagem cognitivo-comportamental, porque o objetivo é, antes de tudo, conscientizar o fumante de que largar o vício é o melhor negócio para sua saúde.

Meireles enfatizou que o tabagismo é classificado como doença crônica pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O fumo causa dependência química e está relacionado ao aparecimento de outras 50 doenças, entre elas o câncer, enfisema pulmonar, pneumonia, aneurisma e derrame cerebral. Essas e outras informações são levadas ao paciente em palestras que começam com periodicidade semanal no primeiro mês. No segundo mês, os encontros passam a ser quinzenais e, no terceiro, mensais.

A cada palestra, o paciente leva para casa o material didático usado. São cartilhas com dicas para que o fumante não só largue o vício, como também não caia na armadilha de acender um cigarro. "Quem começa a largar, sempre tem a tentação de fumar um cigarro que seja em horários emblemáticos como ao assistir televisão, depois do almoço, enfim, naqueles momentos em que o fumante costumava fumar necessariamente", relata Meireles. Por isso, as palestras são momentos de troca de informações e experiências para que o fumante aprenda a driblar o desejo intenso de fumar.

Algumas orientações simples que funcionam são escovar os dentes assim que terminar as refeições, evitar o café (bebida comumente associada ao fumo), escolher alguém com quem se relaciona no dia-a-dia para ajudá-lo na tarefa de largar o cigarro, entre outras. Além disso, o fumante recebe alguns conselhos para aprender a viver sem o cigarro. "Os profissionais mostram que o cigarro não é companheiro de ninguém e que não ajuda a resolver problema algum. É comum o fumante recorrer a esse tipo de raciocínio para justificar seu hábito, como se o cigarro o tornasse melhor, mais seguro e corajoso", conta.

Com a triagem dos pacientes, os médicos identificam ainda aqueles com alta dependência química. Para os que são muito dependentes, são distribuídos três medicamentos: o adesivo de nicotina, a goma-de-mascar de nicotina e o anti-depressivo bupropiona. "O medicamento é um apoio para reduzir os sintomas da síndrome da abstinência, ou seja, os efeitos físicos que a nicotina, o monóxido de carbono e as outras tantas substâncias contidas no cigarro, causam em quem fuma", explica o médico.

Ao largar o cigarro, o fumante dependente sente um desejo incontrolável de fumar. É o cérebro indicando a necessidade da nicotina, componente do fumo que causa sensação de prazer ao provocar a produção exagerada de dopamina. Essa substância circula entre os neurônios e dá uma sensação de satisfação. Atribui-se à bupropiona, aliás, o efeito de aumentar a produção de dopamina no cérebro. Atentos ao fato, pesquisadores investigam se esta seria a causa do grande sucesso do uso do anti-depressivo no combate ao tabagismo. O adesivo e a goma, por sua vez, têm doses reduzidas de nicotina e, ao usá-los, o fumante engana o cérebro ao ter liberada certa quantidade da substância. O mecanismo impede que o cérebro sinta a falta da nicotina com a interrupção abrupta do consumo de cigarro. Assim, evita-se o sintoma da fissura. As doses vão sendo reduzidas à medida que o tratamento avança.

O tratamento adotado no Brasil é credenciado pela OMS como de alto nível, segundo Meireles. "Usamos os mesmos medicamentos que são usados no resto do mundo. É o que há de ponta na área, inclusive no que se refere á abordagem comportamental?, exemplifica. Segundo o médico, há alguns medicamentos sendo pesquisados para fazerem parte da lista dos remédios anti-tabagismo. Em outros países, usa-se também o spray e o inalador, além de comprimidos que são aplicados debaixo da língua para reduzir os sintomas da síndrome da abstinência.

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