Brasília – Os abortos realizados de forma insegura vitimizam milhares de brasileiras e ainda causam prejuízo ao Sistema Único de Saúde (SUS). É o que revela o estudo Morte e Negação: Abortamento Inseguro Pobreza, divulgado nesta quarta-feira (30) pela Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF, na siga em inglês), entidade que atua em 150 países.
De acordo com a pesquisa, no ano passado os abortos clandestinos foram responsáveis por 230.523 internações no Sistema Único de Saúde (SUS) – quase 700 por dia – para o tratamento de complicações após abortos inseguros, ao custo total de quase R$ 33,7 milhões. Já as 2.068 internações relativas aos abortos permitidos por lei (casos de risco de morte para a mãe e de gravidez resultante de estupro) custaram ao SUS R$ 302,8 mil.
?O custo do aborto inseguro para o sistema de saúde é altíssimo, enquanto que se nós possibilitássemos a essas mulheres a informação de que elas necessitam e o acesso aos serviços seguros, esses custos baixariam dramaticamente?, afirma a diretora da IPPF, Carmem Barroso. "Só existe problema de mortalidade materna causada pelo aborto inseguro nos países onde as leis não permitem a realização dos abortos nas condições médicas adequadas."
O estudo divulgado pela federação não traz números absolutos de mortes maternas decorrentes de abortos no Brasil, mas aponta que o aborto representa 9,5% das mortes maternas diretamente relacionadas à gravidez no país.
Segundo a médica Maria José Araújo, da Rede Nacional de Saúde e Direitos Reprodutivos, pelos dados oficiais, seriam entre 160 e 180 mortes. ?Mas há uma subestimação, por isso se aplica um fator de correção e no total daria 300 mortes por aborto por ano?, disse a médica, que também participou do lançamento do relatório.
De acordo com ela, mesmo que não resulte em morte, os abortos inseguros representam sérios riscos à saúde da mulher e podem deixar seqüelas como a esterilidade.