O transponder desligado do jato Legacy foi o fato que determinou a colisão com o Boeing 737-800 da Gol. Essa é a conclusão inicial – sem os dados das caixas-pretas – dos peritos da Aeronáutica sobre o acidente que deixou 154 mortos no dia 29. Outros fatores contribuíram para a tragédia, mas, isoladamente, não teriam o poder de provocá-la. Entre eles estão possíveis falhas dos controladores de vôo do Cindacta-1 (Brasília) e o fato de o piloto do Legacy ter entrado na contramão da aerovia.
"Hoje, se tivermos de falar em percentuais de culpa, seria 98% dos pilotos e 2% do controle de tráfego aéreo", avalia um oficial. O transponder recebe e envia sinais para os radares em terra e outras aeronaves. Com ele desligado – ou em ‘stand- by’ -, as antenas anticolisão também deixam de funcionar.
A lógica mostra que o acidente começou a se desenhar antes mesmo da decolagem do Legacy, em São José dos Campos. "Quando não se conhece o lugar onde se está voando, deve-se estudar o plano de vôo e a rota no dia anterior", diz um oficial. Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, pilotos do jato, voavam pela primeira vez no Brasil. Além disso, tinham pouca experiência na condução do Legacy.
Sobre o controle de vôo, a suspeita é de que tenha havido dificuldade na comunicação via rádio entre os controladores e o piloto Lepore. Segundo o relato de um militar que ouviu a gravação das conversas, o inglês de Lepore é ‘arrastado’. "É provável que, em algum momento, o diálogo tenha ficado ininteligível", diz o oficial. Os peritos também não descartam ter havido demora entre o instante em que os controladores perceberam a altitude errada do Legacy e os primeiros alertas.
Ao passar sobre Brasília, o piloto do jato não fez contato com o Cindacta-1. "Quando uma aeronave passa de uma região para outra, é praxe que ela se comunique", diz o militar. Ele ressalva que a possível falha na comunicação não foi decisiva. "Se o transponder estivesse ligado, não haveria acidente.