O ministro José Dirceu, chefe da Casa Civil do governo Lula, é o auxiliar de primeiro escalão mais visado pela oposição, pelos descontentes do próprio PT e pelo grupo que foi expulso do partido por exigir ortodoxia ideológica e programática do governo. O motivo é óbvio. Dirceu, desde o início, revelou-se o maior articulador, o mais enérgico líder e o cabeça da equipe do novo governo, a ponto de muita gente haver insinuado que ele manda mais que o próprio Lula. Ou, pelo menos, que diz ao presidente o que deve fazer.
Lula, percebendo essa evidente força de José Dirceu, livrou-o de funções importantes, mas secundárias, e o designou como uma espécie de gerente de todos os ministérios. Com isso, o presidente pretendeu ver-se livre para fazer sua política internacional, ramo para o qual revelou gosto e vocação, e sua política nacional populista, voltada a manter o apoio e aplausos das massas mais pobres. Seus discursos e suas viagens, que muita gente critica por considerar excessivos, com Dirceu na coordenação do governo se tornam viáveis e, presume-se, sem prejuízo para o desempenho do governo.
Mas o ministro José Dirceu é forte, mas não é Deus, e, justa ou injustamente, contra ele levantam-se suspeitas, em razão de algumas de suas relações, a começar com as que mantinha, bastante estreitas, com seu auxiliar direto Waldomiro Diniz. Este foi flagrado negociando com bicheiros recursos para campanhas eleitorais e para o próprio enriquecimento. Não foi demitido, mas exonerado a pedido, o que foi um erro do governo. A demissão seria um início de punição. A exoneração, a pedido, soa como um voto de confiança ou o benefício da dúvida.
Até agora, ninguém provou que José Dirceu tinha qualquer relação com as falcatruas de Waldomiro, embora seja evidente que foi descuidado, pois quando deu ao seu amigo funções tão importantes quanto negociar com deputados e senadores, contra ele já existiam graves acusações e mesmo inquéritos. No mínimo, o ministro teve “culpa in eligendo”. Não deveria admitir um auxiliar sob suspeita. Que o acusem de temeridade, mas ainda nada se provou de cumplicidade.
Agora, entretanto, surge um outro fato que parece mais grave, pelo menos para o bom nome de José Dirceu e do governo.
Descobriu-se e foi denunciado que o funcionário público do Paraná José Carlos Becker de Oliveira e Silva, de 26 anos, servidor do governo estadual e não do federal, nem de municípios, fazia advocacia administrativa indo freqüentemente a Brasília, onde conseguia com ministros verbas para prefeituras do interior do nosso Estado. Ninguém sabe quem pagava suas viagens, já que seu salário, da ordem de R$ 2.500,00, não seria suficiente para tais despesas. Nem como ia tratar, em Brasília, de assuntos que não lhe diziam respeito nem ao seu cargo. Sabe-se, sim, que está fazendo carreira política e as verbas que levantou para prefeituras deverão granjear-lhe prestígio e votos.
Nos documentos que se referem a ele e ao seu tráfico de influência, o que é crime, seu nome aparece com as iniciais “JCB”, o que faz crer que sabia estar agindo ilegalmente.
Acontece que “JCB” é filho de José Dirceu e seu pai o ajudou nas negociações das verbas ou, pelo menos, a obtenção do dinheiro foi facilitada pelo fato de ser filho do todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil. Difícil uma CPI, como sonham opositores. Mas é hora de maiores explicações.
