Os ucranianos reproduziram em Curitiba seus costumes religiosos e culturais, valores que se destacaram na sua contribuição para o desenvolvimento da cidade.

No fim do século 19, muitos ucranianos fugiram do país que estava dividido pelo domínio dos czares russos e dos imperadores austro-húngaros. Nessa busca por abrigo fora da Europa, que muitos chegaram no Brasil. Apesar de não haver estimativas oficiais, calcula-se que cerca de 20 mil vieram para cá e grande parte se instalou em Curitiba. Estabeleceram-se no Campo da Galícia e foram expandindo suas propriedades ao longo da atual Avenida Cândido Hartmann e por todo o bairro do Bigorrilho.

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A escritora Maria Luisa Andreazza, autora de "Paraíso das delícias: um estudo da emigração ucraniana?, explica que, como representantes de uma cultura camponesa, os ucranianos valorizavam ter filhos. Somavam isso a noção cristã segundo a qual a família se completa com a descendência. Por esse motivo, julgavam sensato ter uma prole numerosa. Desse compromisso entre as gerações decorreu o hábito de coabitarem avós, filhos, noras e netos. ?Esse tipo de convívio entre gerações transcorreu de forma harmoniosa por quase um século?, comenta.

Casamento entre etnias

Com relação ao casamento, a historiadora observa uma redução dos rituais ancestrais ligados ao matrimônio. Embora o casamento continue sendo motivo de comemoração, não é mais celebrado pela comunidade inteira. Agora, os pais da noiva recebem convidados. Os jovens, por sua vez, se sentem livres para escolher os parceiros, mesmo que essas pessoas não pertençam à mesma etnia. ?Algo impensável para as gerações dos seus avós?, lembra Maria Luisa.

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Os ucranianos formam uma comunidade coesa que, apesar de composta atualmente, na sua quase totalidade, por brasileiros natos, procura manter viva a lembrança, os costumes e a tradição de sua terra de origem. Conforme Maria Luisa, isto não quer dizer que não sejam ativos participantes dos problemas comuns da cidade em que vivem e trabalham.

Folclore e pêssancas

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Desde a chegada dos primeiros imigrantes ao Brasil, existe um trabalho de preservação das tradições legadas pelos seus antepassados. Por meio do folclore se divulga a cultura e são transmitidas aos jovens as tradições ucranianas. Os dois maiores grupos folclóricos, Barvínok e Poltava maravilham os espectadores com a agilidade dos famosos kossacos e com a delicadeza das lindas bailarinas ucranianas.

A integração da cultura ucraniana à cultura local é tão grande que as pêssancas – ovos decorados e pintados à mão – viraram símbolo da cultura local, como lembra a historiadora Oksana Boruszenko. A tradição manda que as pêssancas ou pysanka (que significa escrever) sejam feitas na última semana da quaresma e, no domingo de páscoa, são levadas à igreja onde são abençoadas e presenteadas aos amigos.

Elas podem ter vários significados, como por exemplo, um sinal de amor de quem presenteia, ou um poder curativo, ou ainda o poder de proteger a casa contra qualquer perigo. Mas, na maioria dos casos, ela é considerada uma espécie de talismã ou amuleto. ?Talvez uma das razões que propiciaram o sucesso dos ucranianos nas terras brasileiras?, admite o escritor Tarlis Batista em seu texto: "Paraná: Viagem à Terra dos Ucranianos".

Pierogi brasileiro

A comida ucraniana também é apreciada. Um dos pratos mais conhecidos é o pierogi, pastéis adocicados recheados de ricota. Com o tempo, a receita foi ganhando toques brasileiros e hoje o prato se difundiu, fugindo um pouco do tradicional. Confira a receita:

Ingredientes

Massa: 500g de farinha de trigo.

1 copo de leite morno.

1 gema de ovo.

Recheio: 500g de batata.

500g de requeijão (no original, usa-se ricota).

1 cebola pequena.

1 ovo inteiro.

1 colher (sopa) de manteiga, sal e pimenta.

Molho: Alho.

Cebola.

Tomate.

Manteiga.

Molho de tomate pronto.

Ervilhas.

Sal e pimenta do reino a gosto.

Preparo da massa: Coloque a farinha em um tabuleiro ou tigela. Faça uma cova no centro e vá colocando o leite aos poucos e misturando bem. Adicione a gema e continue misturando. A massa deve ficar com consistência para poder ser sovada. Enfarinhar um tabuleiro e sovar bem. Se a massa ficar muito dura, acrescentar um pouco mais de leite. Ela deve ficar macia e úmida, mas desgrudando da mão. Abra a massa com um rolo, corte em círculos (com a boca de um copo), recheie, dobre e aperte as bordas.

Preparo do recheio: Doure a cebola e acrescente a batata cozida (e amassada), o requeijão, o ovo, o sal e a pimenta.

Cozimento: Em uma panela grande, ferva grande quantidade de água (já salgada). Coloque os pierogis e mexa vagarosamente. Depois que eles subirem, cozinhe por mais 2 ou 3 minutos e retire-os, com o auxílio de uma escumadeira. Cubra com molho de sua preferência.

Preparo do molho: Faça um refogado com o alho, a cebola, o tomate, o sal e a pimenta, na manteiga. Depois acrescente as ervilhas e o molho de tomate. Cubra os pierogis numa travessa e polvilhe com queijo parmesão se preferir.