Quem trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro, diz o ditado. Trata-se de uma crítica. Quem pega no batente não tem disponibilidade de tempo para mandar os outros trabalharem para ele nem para inventar fórmulas mirabolantes para faturar sem o suor do próprio rosto. Não é por nada que a maioria dos folgados negocistas do Congresso pertencia ao que se costuma chamar de ?baixo clero?, ou seja, o grupo de deputados que pouco aparece no noticiário, na tribuna ou apresentando projetos de lei.
Descobre-se agora a triste realidade de que os trabalhadores passaram a ser a maioria entre os pobres no Brasil. Por trabalhadores, entenda-se os que têm empregos formais ou informais e os que procuram trabalho: os desempregados. A participação dos ocupados entre os que ganham menos subiu de 43,3% para 52%. No início da década de 90, os inativos pobres eram maioria: 56,7% do total de pobres existentes no país. Atualmente, são minoria. Considerando pobre quem ganha até meio salário mínimo, desse contingente da população, 48% está na faixa da pobreza. Os que trabalham são maioria.
Segundo o economista Márcio Prochmann, da Unicamp, autor de um estudo que chegou a essa conclusão, a piora na situação da população ativa resulta principalmente do baixo crescimento econômico nos últimos anos, da precarização do mercado de trabalho e do aumento do desemprego. Por precarização traduz-se o trabalho informal, sem carteira assinada e sem garantias previdenciárias e trabalhistas. ?A situação da pobreza só não se tornou mais desfavorável devido aos avanços nas políticas sociais, em grande medida depois da Constituição de 1988, que expandiu o gasto social?, acentua o economista.
Outros analistas dessa situação paradoxal de que mais trabalhadores somam-se à camada dos pobres e menos inativos hoje figuram nela, avaliam que a forte expansão dos gastos sociais também é um dos motivos do empobrecimento da classe trabalhadora e, comparativamente, melhoria da situação dos inativos. Para pagar aos inativos, o governo precisa onerar os ativos e o setor produtivo como um todo. Como? Cobrando mais impostos. Tais caminhos emperram os investimentos produtivos e o crescimento que geraria empregos, riquezas e melhores salários.
A carga tributária aumentou mais de dez pontos percentuais na última década. Os gastos com benefícios assistenciais e subsidiados saltaram 1.362%. Foram de 5,2 bilhões em 1987 para R$ 76 bilhões no ano passado. Enquanto isso, os gastos com inativos e pensionistas da Previdência subiram 310% no mesmo período. Passaram de 10,4 bilhões para R$ 42,6 bilhões. Esses benefícios, mais os pagamentos da Previdência a quem recebe mais de um salário mínimo, correspondem a 60% do gasto não financeiro do governo federal. Eram 22,3% há quinze anos.
Para o especialista Amir Khair, o problema maior está no juro alto. O corte de apenas um ponto percentual na taxa Selic representa uma economia de R$ 10 bilhões por ano para o setor público. Para que se tenha uma idéia de quanto isso significa, é mais do que se gasta com o Bolsa Família (R$ 8,5 bilhões neste ano). Conclui-se que os programas sociais são um benefício, mas obstaculizam o crescimento econômico e a geração de empregos por desviar recursos da produção para a inatividade e lenitivos para a miséria.