O Brasil está passando por uma mudança estrutural no mercado de trabalho que não estava no radar dos especialistas na década de 90. O emprego formal está aumentando muito, sem que o simples ritmo do crescimento econômico justifique o ímpeto da melhora. "Houve uma reversão de tendência que, de certo modo, ainda é enigmática e misteriosa", diz o economista chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Neri
De 1996 a 1999, registrou-se uma redução de 1 milhão de empregos formais no Brasil. De 2000 a 2005, um aumento de 5,4 milhões. A aceleração do ritmo de crescimento entre os dois períodos, de 1 7% ao ano para 2,4%, não é vista como suficiente para causar uma reviravolta no mercado do trabalho daquela magnitude
Estes dados estão num relatório recente da Secretaria de Assuntos Econômicos (SAE), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que foi elaborado pelo economista Antonio Marcos Ambrozio. Tanto ele como Neri têm várias hipóteses sobre as causas da grande mudança no mercado de trabalho
Os dois, entretanto, concordam que ainda não se sabe com certeza as razões do fenômeno. De abril de 2004 para o mesmo mês de 2006 os empregos formais (incluindo setor privado e funcionários públicos) saíram de 51% da população empregada para 54,5%
O relatório do BNDES chama a atenção para outro ponto: a virada no emprego formal foi em grande parte puxada pela indústria e, nos últimos anos, acentuou-se nas grandes metrópoles, consideradas como as áreas mais problemáticas com a combinação de desemprego, degradação e criminalidade
Na indústria de transformação, passou-se de uma perda líquida de 567 mil postos de trabalho entre 1996 e 1999 para um ganho de 1 27 milhão entre 2000 e 2005. "A quebra de padrão entre os dois períodos fica muito patente na indústria", diz Ambrozio. No comércio e nos serviços, saiu-se de uma situação de quase estagnação no primeiro período para a criação de, respectivamente, 1,7 milhões e 2,2 milhões de empregos formais entre 2000 e 2005
Nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém, a criação líquida de empregos formais teve um forte recuo entre 2000 e 2003, saindo de 307 mil para 194 mil. Em 2004 e 2005, houve uma retomada, com 546 mil e 570 mil.