Brasília (AE) – O doleiro Antônio Oliveira Claramunt o "Toninho da Barcelona", levantou a suspeita de que o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) e doleiros foram protegidos pelo governo e pelo PT por causa da aliança com a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PT), no segundo turno da eleição municipal, em 2004. Ele declarou que foi um erro da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Banestado não ter convocado Maluf e os doleiros Vivaldo Alves, o "Birigüi", e Richard Andrew de Mol Van Otterloo, que poderiam contribuir com as investigações.
De acordo com "Toninho da Barcelona", se tivesse convocado o ex-prefeito e os doleiros, a CPI poderia ter esclarecido as contas que Maluf tem no exterior. Ele afirmou que Maluf – preso há 11 dias em São Paulo sob acusação de corrupção passiva, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e evasão de divisas -, teria US$ 165 milhões nas Ilhas Virgens Britânicas e US$ 600 milhões na Ilha Jersey, paraíso fiscal do Canal da Mancha.
"Toninho da Barcelona", condenado a 25 anos de prisão – sob acusação de lavagem de capitais, evasão fiscal e quadrilha – contou aos parlamentares que "Birigüi" o teria procurado para perguntar se sabia que seria convocado a depor na CPI do Banestado. "Achei isso estranho porque a informação veio de um doleiro", disse "Toninho da Barcelona".
Otterloo tem algo em comum com Maluf, que amanhã será interrogado na Justiça Federal no processo sobre a conta Chanani do Safra National Bank de Nova York. A conta foi operada por "Birigüi". Segundo a Procuradoria da República e a Polícia Federal (PF), Maluf e o filho mais velho dele, Flávio Maluf, que também está preso, teriam tentado ocultar provas e intimidado testemunha. Maluf nega os crimes atribuídos a ele. "’Birigüi’ é o bandido, ele é o dono da conta Chanani", reage o ex-prefeito.
Jazz
Investigação da Procuradoria e do Ministério Público Estadual (MPE) revela que Oterloo operou a conta Jazz, no MTB Bank de Nova York. A Jazz foi uma das principais abastecedoras da Chanani, da qual Maluf foi o maior beneficiário segundo a Polícia Federal (PF).
A Chanani movimentou US$ 161 milhões – a maior parte desse montante saiu da Jazz. Rastreamento da Promotoria Distrital de Manhattan indica créditos da Jazz para a Chanani que variavam de US$ 700 mil a US$ 3 milhões. A Jazz, número 030.171.954, foi aberta em 28 de março de 1997, por Oterloo e seu sócio Raul Srour, apenas três meses depois que Maluf deixou a prefeitura. A conta foi mantida no MTB Bank de Nova York. Fechado pelo governo americano, o MTB virou Hudson United Bank.
Srour e Otterloo são controladores da Apolo Turismo e da Avenca Turismo, sediadas em São Paulo. A Avenca foi substituída pela KLT Turismo e Viagem Ltda, em junho de 2005. Birigüi declarou à PF que, entre 1993 e 1996 (período do mandato de Maluf), manteve "acordo operacional" com as agências de Srour e Otterloo.
Os dois operadores da conta Jazz serão intimados pela Promotoria de Justiça da Cidadania e pelo Ministério Público Federal (MPF). "Eles também movimentaram quantias vultosas no MTB", anotou o procurador da República Vladimir Aras, que rastreia movimentações ilícitas. "São muitos lançamentos; a Jazz pode ter sido a principal abastecedora da Chanani", destacou o promotor da Cidadania Sílvio Antônio Marques. "São milhões de dólares, muitos milhões."
Hoje, os advogados de Maluf pediram à Justiça adiamento do interrogatório do ex-prefeito. Os criminalistas José Roberto Leal de Carvalho e José Roberto Batochio alegaram que não tiveram acesso a todos os CDs com gravações telefônicas captadas pela PF durante a investigação sobre a Chanani. O pedido foi negado.