Jerusalém (AE-AP) – O primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, de 77 anos, foi submetido hoje a uma nova tomografia computadorizada, um dia depois de sofrer a terceira cirurgia cerebral, que mostrou uma pequena redução na pressão intracraniana, mas ele continua em estado crítico, respirando por aparelhos, informou o diretor do Hospital Hadassah, de Jerusalém.
Em sua primeira entrevista sobre o estado do premier em mais de 24 horas, o doutor Shlomo Mor-Iosef acrescentou que os sinais vitais de Sharon são estáveis. Os médicos decidirão amanhã quando vão iniciar o processo de despertá-lo paulatinamente do coma induzido – um recurso para evitar a ampliação das lesões causadas pelas hemorragias em seu cérebro – a fim de examinar a extensão dos danos neurológicos, acrescentou.
"Primeiro temos de estabilizar a situação e lutar pela vida do primeiro-ministro", disse Mor-Iosef. "Então poderemos avaliar seu quadro neurológico". Perguntado se era possível salvar a vida de Sharon, ele respondeu: "Acreditamos que é possível".
A entrevista foi concedida no início da noite – ao fim do período de Shabat, o dia do descanso semanal, de acordo com a tradição judaica.
Segundo o neurologista argentino Félix Umansky, que integra a equipe que trata de Sharon, o primeiro-ministro mantém as chances de recuperar-se, embora seja prematuro avaliar as seqüelas que ele poderá ter.
"O primeiro-ministro estava tomando anticoagulantes quando o operamos na quarta-feira à noite para salvar, literalmente, sua vida. Naquele momento foi difícil estancar a hemorragia e ficaram alguns resíduos que foram completamente retirados na cirurgia de sexta-feira", explicou Umansky.
Embora Umansky se mantenha otimista, a maior parte dos especialistas não envolvidos diretamente com o caso consideram remotas as possibilidades de ele voltar a trabalhar.
Os israelenses aproveitam o Shabat para manter a vigília por Sharon.
Dezenas deles visitaram hoje um cemitério no Deserto de Negev, onde está enterrada a mulher de Sharon, Lily – que morreu de câncer em 2000 -, e onde o primeiro-ministro já havia manifestado o desejo de ser enterrado.
O vice-primeiro-ministro Ehud Olmert, que assumiu o governo após a internação de Sharon, convocou uma reunião do gabinete israelense para depois do Shabat, para acompanhar a situação do primeiro-ministro.
No exterior, a saída de cena de Sharon preocupa os líderes de países empenhados em fazer avançar o processo de paz no Oriente Médio.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, suspendeu na sexta-feira uma viagem que faria à Indonésia e Austrália, em conseqüência do agravamento do estado de saúde de Sharon.
Segundo Richard Haas, presidente do Conselho de Relações Exteriores dos EUA, a perda do primeiro-ministro, assim como o caos político que precede a eleição palestina prevista para o fim do mês, levam a uma "avaliação pessimista" para o futuro da região.
Haas acrescentou que "é pouco provável" que o processo avance de maneira significativa sem Sharon.
Na avaliação do especialista americano, o primeiro-ministro se transformou num fator positivo nos esforços de pacificação, apesar de ter chegado ao poder precedido pela fama de ser um "falcão".
"A doença de Sharon é um duro revés", declarou Aaron Miller, especialista do Centro Woodrow Wilson, e ex-conselheiro para assuntos de Oriente Médio de várias administrações americanas.
Eleições parlamentares estão previstas para março em Israel. Mesmo com a doença de Sharon, o Kadima – partido de centro que fundou há dois meses, depois de abandonar o conservador Likud – lidera as pesquisas de intenção de voto.
Olmert é visto como um dos prováveis sucessores do primeiro-ministro. Também são boas as chances do atual ministro da Defesa, Shaul Mofaz, da ex-ministra da Justiça Tzipi Livni e do ex-primeiro-ministro Shimon Peres. Todos são do Kadima.