Os dias que antecederam o milésimo gol de Pelé foram cercados de grande expectativa e ilustrados com histórias incríveis, algumas delas não tão reais.

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A mídia passou semanas fazendo reportagens sobre o tema, com repercussão em todo o mundo. Mundo que, quatro meses antes, havia presenciado um momento histórico: em 20 de julho de 1969 o homem pisou pela primeira vez na Lua.

O gol mil ocorreu no principal palco do futebol, o Maracanã, em 19 de novembro de 69, em cobrança de pênalti contra o goleiro argentino Andrada. O Santos venceu o Vasco por 2 a 1, mas o resultado do jogo era o que menos importava.

Desde que atingiu a marca de 995, no fim de outubro, contra o Coritiba, Pelé passou a ser mais focalizado ainda do que já era antes. Os estádios ficavam lotados a cada partida do Rei, a imprensa cobria de perto cada um de seus passos.

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Romário, certamente, terá sensação parecida a partir de amanhã, contra o Gama, no Estádio Mané Garrincha, até o dia em que balançar a rede pela milésima vez. Aos 41 anos, o Baixinho, em fim de carreira, volta a ficar no centro dos holofotes. ‘Quando fui me aproximando do milésimo gol, todos fizeram questão de transformar aquilo em um grande tema’, diz Pelé, sempre que recorda o inesquecível 1969.

O gol 999 saiu em 14 de novembro, contra o Botafogo da Paraíba, no jogo de inauguração do hoje desativado Estádio Governador José Américo de Almeida. Foi no segundo tempo, em cobrança de pênalti. As atenções, então, se voltaram para a partida seguinte em Salvador, contra o Bahia.

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A Fonte Nova recebeu, no dia 16, cerca de 100 mil pessoas, que provavelmente pela primeira e única vez torceram contra sua própria equipe. Todos queriam ver o histórico gol de Pelé. Imaginavam voltar para casa e contar para amigos e familiares o feito do Rei. Levariam aquilo para a vida inteira. Sonhavam dizer: ‘Vi o milésimo gol de Pelé.

Mas deixaram a Fonte Nova decepcionados. Principalmente com o zagueiro Nildo, que, no primeiro tempo, salvou gol de Pelé em cima da linha – Nildo foi vaiado pelos baianos, dizem relatos da época. Na segunda etapa, a trave impediu a festa. E, no fim, o empate por 1 a 1 foi lamentado pelos torcedores.

Os lances mostraram que Pelé não tinha obsessão por deixar o gol mil para o Maracanã (ou pelo menos eram fortes indícios disso). Na Bahia, não acertou a trave de propósito. Ou talvez não tenha acertado de propósito – Pelé era capaz de tudo com a bola.

A cerimônia festiva foi, então, preparada para a noite de 19 de novembro de 69. Aos 32 minutos do segundo tempo, de pênalti, fez o gol mil, em Andrada. O goleiro passou a vida chorando aquele gol. Não deveria. O lance o colocou na história de Pelé e, conseqüentemente, do futebol.

Pelé se tornou ainda maior do que já era. Conseguiu algo até então inimaginável para um atleta profissional. E tão importante quanto o número de gols foi a qualidade da maioria deles, como certa vez definiu com maestria Carlos Drummond de Andrade: ‘Marcar mil gols, como Pelé, não é tão difícil. Marcar um gol como Pelé é.