Se engana quem pensa que para saborear um canarde l?orange (pato com molho de laranja) ou um ceviche peruano (pescado marinado com suco de limão e pimenta) precisa ir aos grandes centros da gastronomia como Rio de Janeiro e São Paulo. Curitiba, que é considerada a ?capital de todos os povos?, também reúne os melhores sabores do mundo.
?A variedade de opções encontrada na gastronomia da capital paranaense se explica pela exigência da sua população?, afirma o diretor executivo de Desenvolvimento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Luciano Bartolomeu. Segundo ele, cerca de 55% dos moradores de Curitiba não nasceram aqui, o que fez com que a cidade se adaptasse às exigências e preferências desses ?forasteiros?. E isso, na avaliação de Bartolomeu, foi muito importante, pois provocou uma profissionalização desse segmento.
O crescimento na procura por alimentação fora de casa também tem peso nesse cenário. Segundo Pesquisa de orçamentos familiares, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o brasileiro gasta, em média, 26% do orçamento para comer fora. O Paraná aparece em quarto lugar entre os estados, atrás apenas de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. A estimativa é que nos próximos 20 anos o gasto com a alimentação fora de casa atinja 47%, índice atual dos Estados Unidos. As mulheres são as maiores responsáveis por esse crescimento. ?Elas saíram para trabalhar fora, e a distância entre a casa e o trabalho faz com que elas busquem essa facilidade?, ponderou Bartolemeu.
Regional
Mas essa busca pela praticidade na hora da alimentação provocou uma mudança significativa na gastronomia de Curitiba. Apesar de a culinária italiana – marcada pelas massas e pizzas – continuar liderando a preferência dos curitibanos, os sanduíches já estão quase desbancando essa liderança. Com isso, a culinária regional praticamente sumiu dos restaurantes.
Mas isso, na avaliação do professor do curso de Gastronomia do Centro Europeu, José Serra Masso, pode ser um ponto positivo. ?Graças à influência das etnias, Curitiba tem uma cozinha muito diversificada e que está em constante evolução?, avaliou. Hoje, além das culinárias italiana, alemã, portuguesa e árabe, Curitiba já conta com representantes, por exemplo, das comidas tailandesa, marroquina e peruana, que vem ganhando cada vez mais apreciadores pela curiosidade dos seus pratos, ?que são marcados por sabores fantásticos de uma cozinha pura?.
Comida típica dos imigrantes
Embora a culinária mundial esteja ganhando espaço, há quem aposte na manutenção dos pratos típicos trazidos pelos imigrantes. Iguarias como pierogui (no polonês) ou varreneke (no ucraniano) – pastéis cozidos recheados com batata, repolho ou ricota -, ou o holoptsi – charutos de repolho recheados com trigo, cogumelo e condimentos ou somente com arroz e carne – podem ser encontrados em restaurantes sofisticados, além de feiras gastronômicas e armazéns de bairro.
Desde 2001, o empresário Júnior Durski resolveu se especializar na cozinha internacional, em especial a polonesa, russa e ucraniana. Hoje, o estabelecimento é considerado um dos melhores no gênero. O local abriga ainda uma adega com quatro mil garrafas e 480 rótulos de vinho, onde é possível encontrar o vinho francês Romanée Conti, que custa R$ 23 mil a garrafa.
Já quem quiser provar as delícias da comida eslava, pagando pouco, precisa conhecer o Armazém Santa Ana, que está desde 1934 no mesmo endereço, no bairro Uberaba. Fundado pelo ucraniano Paulo Szpak, o armazém de secos e molhados era ponto de encontro de tropeiros, e ficou marcado por ser um local onde se encontra de tudo.
Espaços novos e tradicionais
Estar atento às mudanças na gastronomia de Curitiba pode resultar em um bom negócio. Que diga o empresário Marcelo Woellner Pereira – que está à frente de estabelecimentos como o Carolla Pizza e Babilônia Gastronomia e Cia.
?Nesse mercado não existe espaço para amador, pois o consumidor está cada vez mais exigente, buscando preço e diversidade?, avaliou. E foi com essa visão que ele criou em 2003 o Babilônia, um complexo gastronômico que funciona 24 horas e tem como opções, além de choperia, padaria, sanduicheria e loja de vinhos e perfumes, culinária oriental e do sudeste asiático.
Embora a busca pela diversidade venha marcando o mercado gastronômico, muitos endereços tradicionais continuam fazendo sucesso. É o caso do bairro de Santa Felicidade, que se mantém como um forte ponto de atração de turistas e curitibanos. O bairro concentra cerca de 30 restaurantes.
Em outro extremo da cidade, na Praça 19 de Dezembro, funciona há mais de 50 anos o Ile de France. Foi o Ile quem lançou o ?strogonoff? na cidade.