Um documento que reflete na sua expressão mais lúcida a quadra de desajustes políticos e administrativos, cujo fulcro é a pessoa do próprio governador do Estado, tornou-se público na coluna ETCetera de ontem, aliás, espaço que O Estado do Paraná dedica ao procedimento asséptico de mostrar aos leitores, sem quaisquer apelos gratuitos à ofensa pessoal e à calúnia, o atribulado viés comportamental de quem foi eleito para pilotar a máquina administrativa de uma unidade federativa, que em tempos menos recentes se notabilizava por sua pujança socioeconômica, ou pelo valor ético de seus dirigentes.
Trata-se da carta enviada a Paulo Pimentel por Guilherme Richter Caron, filho do ex-secretário estadual de Obras, Luiz Caron, que depois do rancoroso ataque desferido a seu pai pelo governador do Estado, minutos após a solenidade de posse, ao visitar as instalações que passaria a ocupar no Palácio das Araucárias, trocou Curitiba por uma pequena cidade litorânea de Santa Catarina, onde teve o privilégio de assistir – por esses dias – a espetacular captura de 60 mil tainhas.
Segundo o missivista, um lugar ?completamente diferente daí?, em comparação ao Paraná que foi impulsionado a abandonar ?depois de ter trabalhado quatro anos dentro de um governo com tantos indícios de corrupção?, enfatizando que o fez pela decepção que o convenceu, inclusive, a mudar tanto o estilo quanto o padrão de vida.
O desabafo de Guilherme Caron, texto que deve ser lido obrigatoriamente por todos os paranaenses de bem, ganha foros de autenticidade pelo destemor em tocar feridas recém-abertas. Por outro lado, passa a exigir uma análise proficiente com base nos comentários sobre o convívio ?com pessoas que gastam todo seu tempo pensando em como prejudicar alguém, como tirar este ou aquele do caminho para poder fazer alguma pilantragem?.
Na mesma linha, enfatiza as ameaças que ele e seus familiares receberam, mais de uma vez, por cartas, telefonemas e e-mails. Tudo isso pela coragem de reivindicar a honra e a competência profissional do então secretário Luiz Caron, seu pai, desacatado com insultos impublicáveis, verberados em visível surto de desequilíbrio emocional pelo governador, talvez, desapontado pelos tímidos aplausos dos funcionários convocados para a ocasião.
A carta é um tiro certeiro na ignara intenção de queimar incenso a um ídolo de pés de barro.