O ditado diz que “em time que está ganhando, não se mexe”. A conclusão lógica é que em time que está perdendo, deve-se mexer. Mas o time de Lula está perdendo e ele insiste em nada mexer, fiel a certo grupo de companheiros de partido e de campanha que considera o núcleo “imexível” de sua equipe. Dentre estes estão os que foram designados para, em contato com o Congresso, obter a aprovação do antipático salário mínimo de R$ 260,00, incluído no batalhão de frente até José Dirceu, que no dia anterior insistia-se que não iria voltar a ser coordenador parlamentar, além de ministro-chefe da Casa Civil. Como se sabe, são muitos os boatos de que Dirceu e o ministro Aldo Rebelo estão disputando posições, o que foi desmentido pelo Palácio do Planalto.
A derrota do governo foi no Senado, pois na Câmara lograra aprovação da medida provisória do mínimo microscópico. Na Câmara Alta, foi aprovado o salário mínimo de R$ 275,00, proposta do PFL que teve votos em toda a base aliada, inclusive no PT. De acordo com os trâmites legislativos, a matéria derrubada no Senado volta para a Câmara e nela será mais uma vez apreciada. Há, assim, mais uma chance de o governo Lula ver aprovado o mínimo que quer e o trabalhador rejeita. E rejeita a maioria dos senadores, inclusive dos da chamada base aliada.
Essa conclusão de que se em time que está ganhando não se mexe, mas em time que está perdendo deve-se mexer, tem outro aspecto que consideramos ainda mais sério. É que as dissidências que se formam no quadro de partidos que apóiam o governo federal petista já atinge todos os partidos da coligação, inclusive o PT, agremiação que chegou a expulsar alguns de seus parlamentares que votaram contra a reforma da Previdência. Por lógica e para não evidenciar dois pesos e duas medidas, o Partido dos Trabalhadores e o governo deveriam, agora, expulsar também os que votaram contra o mínimo de só R$ 260,00, principalmente no caso do PT, onde a proposta de Lula foi considerada questão fechada. Mas tudo indica que farão corpo mole e ninguém será expulso, pois se isto for feito, a chamada base aliada se transformará numa areia movediça, incapaz de sustentar esta e outras propostas do governo. Será a temida ingovernabilidade.
Ao prosseguir-se na análise do que aconteceu no Senado, chegamos também à conclusão de que o time de Lula está perdendo como governo, não apresentando uma gestão competente, capaz de entusiasmar e manter unida a sua base. A base parlamentar está furada como uma peneira e, a menos que o governo se mexa e recobre a popularidade que vem perdendo a olhos vistos, haverá defecções e o situacionismo breve será minoritário no Congresso. Um bom governo tem sempre mais facilidade de manter, em especial em ano de eleições, a maioria que este está perdendo.
Mas tudo será recobrado com a aprovação, mais uma vez, na Câmara, do mínimo de R$ 260,00. É o que pensa e diz o líder governista na Casa, o estranho deputado paulista Professor Luizinho. Parece que não, pois mesmo que insistindo no mínimo menor o governo consiga a vitória vaticinada por seu líder, estará aprofundando o descontentamento na opinião pública. Um caminho aberto para perder as próximas eleições e consolidar uma maioria oposicionista.
O time está perdendo no que faz, no que não faz e nas disputas parlamentares. Está na hora de mexer e mexer-se.