Talvez um desses feitos sobrenaturais comuns a períodos de intensa reflexão, como é a semana da Paixão de Cristo, contribua para apressar o anúncio da reforma ministerial, embora saibamos todos que não irá se constituir a mesma em nenhum apreciável presente de Páscoa.
Arrastando-se a penosas semanas, a reforma empacou com a eleição de Severino Cavalcanti à presidência da Câmara dos Deputados e o enorme empecilho colocado diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujos cálculos iniciais não contavam com tamanho azar.
Nas contas feitas e refeitas pelo Palácio do Planalto para equilibrar a reforma, com o esforço hercúleo de tornar menos pesaroso o ônus de demitir companheiros de partido, antes do nocaute de Luiz Eduardo Greenhalgh, achava-se no círculo palaciano que a reforma seria tranqüila.
A aparente calma transformou-se numa autêntica barafunda e o comando da reforma e o direcionamento das ações do bloco de sustentação no Congresso, a rigor, foram por água abaixo. A eleição de Severino mostrou, acima de qualquer suspeita ou má vontade, a fragilidade dos operadores políticos do presidente, debilitados desde então por uma série de atropelos e votações perdidas na Câmara.
No momento do anúncio da reforma do ministério, se algum impacto houver – e nem isso é esperado – será a decepção da sociedade quanto ao estofo de uns e outros chamados a integrar o primeiro time de Lula.
Alguns deles, citados pela mídia como tendo contas a ajustar com o Judiciário e outros premiados com a aura ministerial pelo fato absurdo de entrarem como autênticos bonifrates, numa negociação infindável de vantagens e interesses pessoais.
A situação se explica pelo uso de uma imagem futebolística, seara tão freqüentada pelo presidente: entram para disputar a final os reservas, enquanto os cobras ficam no banco.