Teste do pezinho em recém-nascidos completa 30 anos

No próximo mês, o teste do pezinho faz 30 anos. A data vai ser festejada principalmente em São Paulo, cidade pioneira nesse exame que é capaz de detectar doenças em recém-nascidos por meio de gotinhas de sangue do calcanhar.

Nesse período, muita coisa melhorou, como o número de bebês beneficiados. Só na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de São Paulo (Apae), o principal centro de exames do País, hoje são cerca de 30 mil crianças que fazem o teste a cada mês – o número representa a metade dos recém-nascidos no Estado.

Mas para muita gente o teste ainda está longe do ideal.

Há 30 anos, o teste do pezinho identificava só a fenilcetonúria. Hoje, o Sistema Único de Saúde (SUS) cobre mais três: hipotireoidismo congênito, anemia falciforme e fibrose cística. Acontece que nem todos os Estados fazem os quatro testes pelo SUS.

Desde 2001, quando o Ministério da Saúde normatizou o teste do pezinho no País, criando o Programa Nacional de Triagem Neonatal, o exame ficou dividido em fases para os Estados se adaptarem. Na fase 1, os laboratórios aptos pelo SUS – no Estado de São Paulo são sete – fazem o exame da fenilcetonúria e do hipotireoidismo congênito. Na fase 2, incluem anemia falciforme e, na fase 3, a fibrose cística. "Os Estados pedem autorização para ter cobertura do SUS a partir do momento que se mostram capazes da fazer os diferentes testes", diz Tânia Marini de Carvalho, consultora técnica do Ministério da Saúde.

Só Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina estão na fase 3 Ou seja, São Paulo ainda está na fase 2. "O Estado está mais do que preparado para cobrir a fibrose cística", avalia José Eduardo Lauandos, coordenador do laboratório da Apae. "Temos tecnologia e cobrimos 90% a 95% dos recém-nascidos."

Sérgio Henrique Sampaio, presidente da Associação Brasileira de Assistência à Mucoviscidose (outro nome da fibrose cística), complementa: "Dizer que São Paulo não está preparado é balela. Falta vontade política." Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde, órgão responsável pelo pedido de mudança de fase junto ao governo federal, informou que o Estado vai mudar de fase ainda este ano: "Estamos finalizando um estudo que vai ser apresentado para o Ministério da Saúde".

No caso da fibrose cística, especificamente, a margem de erro do teste é alta. "É um exame indireto. De cada 20 resultados positivos, só um é confirmado", explica Fernando Kok, médico do Laboratório Fleury. "Mas, se pensarmos no número de resultados negativos garantidos, o exame presta grande serviço."

Isabela Matuck, de 10 anos, recebeu o diagnóstico de fibrose cística com um ano de idade, quando já tinha sintomas da doença. "Nem sabia da existência do teste ampliado", lembra Ana, a mãe. "No meu caçula já pedi o ampliado." Isabela está bem, mas seu dia-a-dia é uma pauleira: inalações, exercícios respiratórios e antibióticos diários, para o resto da vida.

O objetivo do teste do pezinho é identificar doenças no recém-nascido que podem ser prevenidas ou, no mínimo, garantir boas condições de vida ao paciente. Até o primeiro mês do bebê, o exame é considerado preventivo. Mas o ideal é que seja feito entre as primeiras 48 horas e a primeira semana de vida. Não pode ser feito antes para evitar que o diagnóstico sofra influência do metabolismo da mãe.

Teste ampliado

A rede privada vem ganhando espaço com o teste ampliado. Dependendo do lugar, ele detecta de oito a 40 doenças. No Fleury, um dos mais completos, um exame desses custa R$ 400. As grandes maternidades oferecem a opção. Em algumas, como dos hospitais São Luiz e Albert Einstein, nada é cobrado à parte. O Santa Catarina e a própria Apae cobram R$ 85 pelo ampliado. A legislação brasileira garante o direito ao teste do pezinho desde 1990. Significa que as maternidades são obrigadas a colher as gotas de sangue de todos os pacientes ou encaminhá-los para um posto de saúde.

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