O Tesouro Nacional emitiu ontem (04), pela primeira vez, um título prefixado (com taxa de juros fixa) com vencimento em 10 anos. Em sua primeira semana no cargo, o secretário do Tesouro Nacional, Tarcísio Godoy, comemorou o resultado do leilão, que, segundo ele, reflete maior confiança dos investidores na estabilidade econômica no longo prazo. "É mais um marco na história do Tesouro Nacional", disse Godoy. Foram emitidos R$ 267,5 milhões do papel – Notas do Tesouro Nacional Série F (NTN-F).
Segundo ele, a demanda pelos títulos foi "boa e consistente" e os preços (o juro máximo pago foi de 12,50% ao ano) vieram dentro das expectativas do mercado. "A volatilidade de hoje (ontem) não afetou a demanda pelo papel. O título prefixado de dez anos é muito importante por ser considerado um dos principais benchmarks (referência) do mercado internacional", disse o secretário. A volatilidade à que se referiu se deve ao impacto que a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) produziu nos mercados.
Godoy disse que a emissão "nos aproxima mais ainda dos mercados desenvolvidos e permite que a gente continue no caminho de estruturar melhor a nossa dívida". Segundo ele, o interesse pelos papéis permite antecipar que o governo fará nova oferta na próxima semana. "O volume da nova oferta será de acordo com a demanda que ocorrer." A idéia é que o Tesouro semanalmente venda títulos com essa característica, seguindo a estratégia, anunciada no fim do ano passado, de criar na dívida interna brasileira referências para o mercado nos prazos de vencimentos de três, cinco e dez anos. Assim, o mercado brasileiro de títulos se aproximaria do internacional e se tornaria mais atrativo aos investidores estrangeiros.
Os detalhes sobre as ofertas semanais de títulos prefixados de dez anos serão divulgados no Plano Anual de Financiamento (PAF), previsto para ser anunciado, segundo ele, entre os dias 15 e 20 deste mês. Sem querer divulgar detalhes do PAF, Godoy disse que será mantida a diretriz de reduzir a participação dos papéis pós-fixados, com remuneração atrelada à taxa básica de juros (Selic) na composição da dívida. Ele não quis antecipar quais serão os limites que o Tesouro vai colocar para esses papéis. Em 2006, o PAF previa que as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs, que têm juros pós-fixados) deveriam representar no máximo 49% da dívida e, no mínimo, 39%.
No fim do ano, o Tesouro admitiu que, por conta da escassa demanda, as LFTs ficaram abaixo do piso. O secretário-adjunto do Tesouro, Paulo Valle, disse que a participação das LFTs fechou 2006 abaixo de 38% do total da dívida. A tendência, segundo o histórico do Tesouro, é que o teto que o Plano de Financiamento vai prever para a participação desses papéis na dívida fique abaixo do porcentual da participação desses títulos em 2006. Godoy disse que o Tesouro não será mais agressivo na busca de menor participação de LFTs, consideradas de pior qualidade para o governo por ter remuneração variável.