Tesoureiro pela reeleição de Lula fez contratação ilegal de ONG

O novo tesoureiro da campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior (PT), reproduz em seu governo contratações que estiveram associadas a escândalos de outras administrações petistas, como a do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e da ex-prefeita Marta Suplicy.

Foco de uma devassa em seus governos municipais nos últimos anos o PT é acusado de montar uma ampla rede de corrupção e fraude em contratos de suas prefeituras, que alimentou o caixa 2 do partido.

Em Diadema, um dos problemas detectados pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) foi a contratação do Instituto de Organização Racional do Trabalho (Idort), um velho conhecido das gestões petistas.

Foram três contratos durante seus governos (1993-1996, 2001-2004 e 2005-2006), dois deles julgados irregulares pelo TCE, por terem sido feitos sem licitação. O terceiro contrato ainda aguarda julgamento.

Os três contratos do Idort em Diadema são para prestação de serviços de assessoria e consultoria para a área tributária. Juntos, eles somam um gasto de R$ 5,7 milhões.

Um deles é um contrato firmado em novembro de 2003 para prestação de serviços de assessoria e consultoria na divisão de tributos mobiliários, para orientação quanto ao acompanhamento das 200 maiores empresas do município contribuintes do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Uma outra contratação sem licitação do instituto é de 2002 para serviços de assessoria e consultoria para fiscais para gestão do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN). O contrato, que ainda não foi julgado pelo TCE, custou aos cofres públicos R$ 3,6 milhões.

Não é a primeira vez que o Idort, com sede no Rio de Janeiro, aparece envolvido em problemas nas gestões petistas. Em Ribeirão Preto, o instituto foi alvo de uma CPI na Câmara de Vereadores, durante a primeira gestão de Antonio Palocci (1993-1996).

Na ocasião, o instituto foi contratado sem licitação pelo valor de R$ 2 milhões para análise da dívida de ICMS das Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto (Ceterp), que teve 49% de suas ações vendidas para três fundos de pensão, num negócio em que a prefeitura foi condenada na Justiça.

Na ocasião, o Idort deixou de listar uma dívida de R$ 8 milhões da Ceterp – dinheiro que acabou tendo que ser desembolsado dos cofres públicos, após a abertura de capital.

A gestão de Filippi também tem três contratos com a empresa Consladel Construtora e Laços Detetores e Eletrônica, para serviços de radares na cidade. A empresa é acusada em São Paulo de sustentar o caixa 2 de políticos e servidores na gestão Marta Suplicy. Os proprietários da empresa negam.

A Consladel seria responsável pelo pagamento de até R$ 1,4 milhão em propina a vereadores – em troca de apoio ao governo Marta – e a integrantes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), da São Paulo Transporte (SPTrans) e do Departamento de Iluminação Pública (Ilume).

Dois dos contratos com a Consladel em Diadema, no entanto, já foram analisados pelo TCE, que os considerou regulares. Juntos, eles somam R$ 16 milhões. O terceiro ainda está em análise no tribunal.

Velhos erros

A escolha de Filippi, por determinação de Lula, mostra que o PT não segue a máxima de que é com os erros do passado que se aprende. Dois outros prefeitos petistas, alçados a cargos de confiança na campanha presidencial em 2002 (Celso Daniel, já morto, e Antonio Palocci), trouxeram ao partido tantos problemas quanto a atuação do ex-tesoureiro Delúbio Soares – um dos pivôs do mensalão.

Devassas feitas em suas gestões expuseram o uso das administrações municipais para alimentar os cofres do partido. Tanto em Ribeirão Preto como em Santo André, investigações do Ministério Público Estadual comprovaram fraudes em licitações, superfaturamento de preços e corrupção envolvendo os contratos de lixo, transporte e obras. As denúncias trazem prejuízos ao partido até hoje e contribuíram para a queda de Palocci da Fazenda.

Prefeitura nega irregularidades

O prefeito de Diadema, Jose de Filippi Júnior, sustentou por meio de sua assessoria de imprensa que não há nenhuma irregularidade nas contratações do Instituto de Organização Racional do Trabalho (Idort) e da Consladel. De acordo com nota do prefeito, a Lei de Licitações (8.666/93) permite a dispensa de licitação na contratação de instituição de pesquisa, ensino e desenvolvimento institucional.

A assessoria explicou que a prefeitura realizou pesquisa antes de contratar o Idort. Na nota, Filippi acrescentou que o instituto "apresenta 70 anos de atuação no mercado, preço adequado e vasto currículo de serviços prestados". Ele contou ainda que, durante a pesquisa, foi constatado que os contratos do Idort com outras administrações foram considerados regulares pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo e que esses dados "tranqüilizaram" a prefeitura.

A prefeitura de Diadema informou ainda que já recorreu ao TCE por causa da rejeição dos contratos do Idort. Quanto aos contratos com a Consladel, argumentou que o TCE deu parecer favorável e eles foram feitos por concorrência pública.

Os representantes do Idort e da Consladel não foram encontrados para comentar o caso. Em outras ocasiões, eles negaram qualquer irregularidade nos contratos feitos com as administrações petistas, bem como qualquer ligação partidária.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo