Desembarca hoje em São Paulo, de onde será levado para Gonzaga (MG), o corpo do jovem Jean Charles de Menezes, um dos milhares de brasileiros a sofrer a maior das violências que o modelo econômico excludente impôs: deixar o País para tentar a sorte em algum lugar do Primeiro Mundo para aliviar a miséria dos familiares.
Residindo legalmente em Londres há alguns anos, ao contrário de outros tantos brasileiros que o fazem de maneira afrontosa às leis dos países onde foram bater, o eletricista Charles trabalhava, estudava e pagava impostos ao governo britânico. Tinha prometido aos pais na última vez que os visitou regressar dentro de poucos anos para tocar a vida aqui mesmo.
A insuportável pressão exercida sobre a polícia pelos recentes ataques terroristas em estações do metropolitano londrino, o popular tube, acabou fazendo a tragédia desabar sobre o imigrante brasileiro morto a tiros, por engano, na estação de Stockwell.
Além de vítima do ódio nacionalista que divide o mundo, Jean Charles deve ser pranteado como um dos muitos imolados por nosso iníquo e insensível sistema de distribuição de renda. Tão perverso quanto o terrorismo.