Terra de ninguém

Não há necessidade de aprofundar o exame da atual situação brasileira para retirar dela as conclusões mais desanimadoras. Abstraindo os problemas verificados na política ou na economia, com seus visíveis reflexos no desequilíbrio social, o observador se enche de estupefação ao apreciar o achincalhe a que está submetido o setor de segurança pública, no qual é atordoante a falta de coordenação e cooperação entre os governos da União e dos estados.

No centro dessa autêntica terra de ninguém está o cidadão-contribuinte, indefeso, perplexo e cada vez mais exposto à sanha do crime organizado que, aliás, dispõe dos meios mais sofisticados em termos de planejamento e ação logística, sustentados por armamento de grosso calibre e uma rede de informações incrustada no próprio tecido das instituições legais.

O capítulo mais recente da crônica de horrores passou-se no Rio de Janeiro, com os ataques ordenados supostamente pelos líderes do Comando Vermelho, cujo ponto comum é estarem todos encarcerados em penitenciárias de segurança máxima, nas quais, não obstante as freqüentes perorações em contrário das autoridades, tanto as que saem quanto as que assumem o poder, têm ao alcance das mãos os meios para se comunicar com os ?soldados? em liberdade e ditar a estratégia criminosa.

Fatos semelhantes ocorreram em São Paulo em maio e junho do ano passado, mas a comparação do comportamento dos responsáveis pela segurança no estado demonstrara o mesmo estupor e despreparo ostentado hoje pelos colegas fluminenses. Até na declaração que a estrutura policial ?sabia? com antecedência que os ataques seriam desfechados, e nada se fez para impedi-los, houve similaridade entre uma e outra situação.

O governo federal colocou à disposição do Rio de Janeiro – só aguarda o pedido formal – a estrutura da Polícia Federal no estado, com o aumento do efetivo, se necessário, além do reforço das Forças Armadas na área da inteligência. O governador José Serra também manifestou a intenção de solicitar reforço federal para combater o crime organizado em São Paulo, talvez motivado por indícios de nova onda de ataques do PCC. Os governadores recém-empossados parecem convencidos de que não se deve tergiversar com a criminalidade.

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