Terceira via

Há diversas versões da maliciosa anedota sobre o que seria um defeito comum aos paranaenses. Os nossos conterrâneos, por razões desconhecidas ou algum vezo de provincianismo, teriam o hábito de puxar para o buraco do purgatório todo o patrício que consegue começar a sair do sacrifício. Tal inverdade, confirmada por repetidos fatos, parece agora desmentir-se, quando podemos apontar alguns nomes de paranaenses que despontam com prestígio local e nacional. É o caso, por exemplo, da entrada na luta pela presidência da Câmara dos Deputados do curitibano Gustavo Fruet (PSDB), filho do falecido e popular ex-deputado e ex-prefeito de Curitiba Maurício Fruet, e campeão absoluto de votos para deputado federal nas últimas eleições. Gustavo acaba de ser lançado candidato a presidente como opção aos nomes já postos de Aldo Rebelo (PCdoB), atual presidente, e Arlindo Chinaglia, líder do PT na Casa.

Lula, depois de ter manifestado apoio a Aldo Rebelo e não ao seu correligionário e líder, ficou em cima do muro, uma vez que enquetes revelaram que o seu predileto não tinha a preferência dos membros da Câmara. A maioria dos deputados, segundo consta, dava ou ainda dá preferência à candidatura Chinaglia. O surgimento da candidatura Fruet como terceira via, depois de uma consulta por telefone ter mostrado apoio dos peessedebistas a Aldo Rebelo, pode virar o jogo e a terceira via tem chances de vitória. Nem tantas quanto aquelas da eleição de Severino Cavalcanti, uma derrota sofrida por Lula que jamais será esquecida. Severino, candidato do chamado ?baixo clero? do Congresso, chegou à presidência prometendo favores a seus eleitores. E favores conseguiu para si mesmo, criando um mensalinho escandaloso para que pudessem funcionar lanchonetes na Câmara. Acabou descoberto e forçado a renunciar à presidência e ao mandato, numa tentativa de não se tornar inelegível e poder voltar a ser deputado nesta legislatura. Felizmente, o eleitorado foi vigilante e não o reelegeu. Mas é primeiro suplente do PP, aguarda uma vaga para assumir e faz campanha para Arlindo Chinaglia.

Aldo festeja o surgimento da candidatura Fruet, pois acredita que ela tirará votos de Chinaglia, possibilitando sua própria eleição ou pelo menos a ida a um segundo turno. Os resultados são uma incógnita, principalmente porque o voto é secreto e tanto Aldo quanto Chinaglia prometem um aumento de quase 100% nos subsídios e vantagens dos deputados-eleitores. Já Fruet, ao assumir sua candidatura, foi logo declarando que quer uma Câmara independente, como deve ser numa democracia. Também promete a moralização do Legislativo e é contra o absurdo aumento de subsídios pretendido e admitido pelos outros dois candidatos. Essa posição decente o beneficia perante a opinião pública, mas prejudica diante do eleitorado, que é composto de deputados interessados nos milhões a mais que poderão ganhar.

Assim, os paranaenses não estão ainda festejando uma possível, porém difícil vitória de Gustavo Fruet, mas o fato de um conterrâneo com tão pouco tempo na vida pública, bastante jovem, despontar no cenário nacional, seja atuando nas CPIs que mexeram sem acabar com as maracutaias no Congresso, seja agora como escolhido para ser uma nova opção moralizadora na eleição para a presidência da Câmara.

O cargo é da maior importância, pois na ausência ou vaga do presidente da República e do vice, quem assume a chefia do Executivo é o presidente da Câmara. Ele é o terceiro na escala de sucessão. E ressaltemos ainda que Fruet foi o deputado federal mais votado do Paraná, o que confirma uma nova tendência dos paranaenses, prestigiando seus bons nomes e acreditando que este Estado tem muito a oferecer à moralização e desenvolvimento da vida pública brasileira.

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