Tempo é dinheiro

Oxalá o presidente Lula não tenha superestimado a força que a vitória estrondosa das urnas lhe emprestou para fazer as reformas de que o País reclama. Programou, ainda em campanha, um diálogo amplo com a sociedade, e até um pacto, para consertar de vez o País, convencido de que isto só será possível com reformas profundas nos campos previdenciário, tributário, trabalhista, político, judiciário e em outros setores onde as instituições envelheceram ou se mostram, mesmo que modificadas recentemente, incapazes de atender aos anseios da população e retirar o Brasil da condição de um dos campeões mundiais da má distribuição de riquezas e das injustiças sociais.

Essa convicção, enquanto firmada na oposição, tinha embasamento ideológico. Chegando ao governo, incorporou ao projeto as dificuldades reais existentes e que, ao contrário do se que imaginava, não dependem apenas de vontade política. Dependem da adequação dos interesses em jogo, de maior independência de capitais externos e de um processo de desenvolvimento sustentado que promova melhor distribuição de rendas.

O grande erro do atual presidente não foi, por certo, sonhar com um Brasil melhor, mas imaginar que isso poderia ser alcançado sem projetos específicos. Tinha megaprojetos, imaginava megapolíticas, mas falhava por faltar-lhe o esmiuçamento das questões objetivas. Sabedor de que fazer política na democracia é, antes de mais nada, negociar, falou com alguns líderes sindicais, com um grande conselho que criou, o de Desenvolvimento Econômico e Social, com as cúpulas de partidos políticos, com o empresariado e com os governadores de estados. Foi encontrando apoios e aplausos enquanto reclamando reformas. Está encontrando pedras no caminho, na medida em que surgem dúvidas de como fazê-las. Talvez tenha errado ao deixar o Congresso Nacional, justamente quem decidirá sobre as reformas, no final da fila dos debates. Hoje deverá enviar as propostas de reforma previdenciária e tributária ao Congresso. Lula e seu governo já vêm encontrando oposição dentro da própria administração federal, entre os governadores, entre os meios sindicais, entre os parlamentares e, o que é pior, dentro do próprio PT e de sua bancada no Congresso.

A oposição, de seu lado, compromete-se com as propostas de reformas, desde que o PT as apóie unanimemente, pois não faltam nelas medidas impopulares que significam, para os que as aprovarem, desgaste político-eleitoral. Com os petistas, Lula e o presidente do partido, José Genoíno, estão jogando duro. Ameaçam com expulsão os parlamentares que não votarem com o governo.

Há urgência, pois tempo é dinheiro. E, no caso da reforma previdenciária, a mais discutida e discutível, é dinheiro a mais nos cofres públicos e a menos nos bolsos dos trabalhadores. As principais pedras no caminho são a taxação dos inativos, que soa como uma injustiça, e o é!, e a taxação de todos os que ganhem além do limite de isenção do Imposto de Renda, sem dúvida uma quantia irrisória.

O governo está disposto a negociar. Mas não revelará isto enquanto não experimentar o impulso que seu prestígio pode dar à apreciação das reformas.

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