Não há como negar, a cabeça dos que perderam a eleição em Curitiba, deve estar fervendo em busca de explicações elementares e convincentes que, ao menos, diminuam o doloroso impacto da cacetada recebida nas urnas. A metáfora pode não ser das melhores, tendo em vista que o gestual do voto requeria tão-somente dois levíssimos toques nas teclas da urna eletrônica para decidir quem se assentaria na cadeira de prefeito. Mas que foi uma cacetada, lá isso foi.
A nota destoante para o arraial petista é que seu candidato teve cerca de 30 mil votos a menos, comparada à votação atual com a que recebeu ao perder para Taniguchi há quatro anos. Este é, provavelmente, o enigma mais intrincado que o núcleo pensante do PT e seus aliados deverão encarar logo que se desvaneça o efeito da ressaca da tripla derrota em quatro possibilidades de vitória e, o que é pior, naquelas que são as cidades mais importantes do Estado.
Talvez o exemplo específico do PT em Londrina, julgando acertada a hipótese de não abrir mão da identidade que todos conhecem e não aceitar tergiversações cromáticas, ideológicas e adesões duvidosas, motive a cúpula partidária a refletir longa e friamente sobre o arsenal de erros cometidos, repensando a estratégia para o futuro eleitoral.
Alguns analistas terão vontade de colar certo desmerecimento na reeleição de Nedson Micheleti, sustentando a tese que a comunidade mesma repudiou a tentativa de retorno do ex-prefeito cassado por desvio de verbas. Contudo, é preciso ter em conta que o atual prefeito chegou ao segundo turno e teve seu mandato confirmado, validando o raciocínio de que, provavelmente, venceria qualquer que fosse o adversário.
Seria obscurantismo intelectual diminuir a carga de apoios recebidos por Micheleti no segundo turno, em especial do ex-prefeito Wilson Moreira, homem de conduta política inatacável e referência moral na cidade, que no primeiro turno apoiou Luiz Carlos Hauly. Por óbvio, louve-se o edificante exemplo da sociedade, cuja intervenção cívica intimorata livrou a vida pública, queira Deus para sempre, de um político que traiu sua confiança.
O que se deve festejar, no entanto, é que Nedson não foi obstáculo às demais correntes democráticas legítimas que a ele se uniram para derrotar Belinati. Esse é o dado que engrandece sua carreira política e torna sua vitória uma das mais relevantes obtidas pelo PT em todo o País, vez que Londrina é uma das principais cidades da região Sul.
Em Curitiba prevaleceu, ao revés, a tendência menos propícia a tentativas de aventuras de natureza política, característica fundamental do eleitorado. A expressiva votação obtida por Vanhoni nos bairros de concentração de famílias de baixa renda, ainda não dessa vez, foi suficiente para suplantar o conservadorismo típico da maioria. Assim, mesmo ante a suposição de que entre as 211 mil abstenções registradas pelo TRE haja proporção majoritária de eleitores cujo perfil os levasse a votar em Beto Richa, o tucano não sentiu o mais leve abalo e alçou vôo levando no bico uma cesta recheada com exatos 494.440 votos.
Quais os erros cometidos pela disforme confraria abrigada sob a bandeira petista? Auto-suficiência, soberba, falta de sensibilidade, comunicação deficiente, má escolha da assessoria política, excesso de confiança? Os mentores da executiva do partido, um dos únicos a possuir um Grupo de Planejamento Eleitoral, decerto têm uma tarefa pesada para as próximas semanas. Eles têm a obrigação de debruçar-se sobre todas, e cada uma das inúmeras variáveis que compõem o desagradável cenário de derrota em três das quatro cidades que almejavam governar dentro da logística irretocável, caso o eleitor não divergisse, de chegar a 2006 em condições de apresentar fortíssimo candidato ao governo.
O deputado estadual André Vargas, presidente estadual do partido, um dos vitoriosos da árdua campanha de Londrina, arca com a responsabilidade não pequena de empreender a jornada da reconstrução e estimular os companheiros a não perder de vista a vereda da concórdia e do respeito mútuo.
Ivan Schmidt é jornalista