Tem que provar, ou…

Que alguém do povo, indignado, diga coisas do tipo “lá em Brasília todo mundo é ladrão”, isso pode ser tomado à conta de um desabafo genérico, tão genérico quanto a própria acusação que a nada serve. Mas que um ex-ministro, ex-governador, ex-prefeito e ex-deputado como gosta de repetir à exaustão e ainda por cima candidato à Presidência da República venha e diga, como disse e repetiu, que no Ministério da Saúde a corrupção é generalizada, de duas uma: ou ele prova o que diz, ou abandona a empreitada que assumiu. Imediatamente. Não há lugar para irresponsabilidades desse tipo.

É o candidato Ciro Gomes um homem que gosta de se fazer passar por corajoso. Mas a coragem, cada dia que passa, mais se lhe avizinha da falta de compostura, do desequilíbrio e da irresponsabilidade, predicados inservíveis para a assunção à suprema magistratura do País. Todos os brasileiros não vencidos pelo sono ou impedidos por algum outro compromisso viram e ouviram as afirmações do candidato pela televisão, durante o último debate promovido entre os principais postulantes ao Planalto, com o evidente propósito de atacar o governo e seu principal opositor para um eventual embate num segundo turno eleitoral.

Atacar o governo seria natural para um candidato que, embora dele tenha participado, aliou-se a outros desafetos do poder central para tentar a ele voltar ungido pelo povo. Mas mesmo no ataque exige-se o mínimo de respeito à ética e, principalmente, ao contribuinte e ao cidadão brasileiro. Aos eleitores, enfim, juízes nesse atropelado embate em que foi transformada a campanha eleitoral. A corrupção geral por ele referida, sendo verdadeira, incitaria as massas à revolta, à rebeldia e a uma justa cobrança que necessariamente deveria terminar com o afastamento dos indigitados governantes, então merecedores da forca, do paredón, ou, no mínimo, à prisão sem direito a sursis. Afinal, foi para salvar a Saúde que, além dos impostos já existentes, criou-se mais um, em cascata, que o candidato sabe reverberar com maestria. Mas Ciro Gomes, no seu papel de caçador novel de marajás, sabe que essa rebelião não acontece porque o povo cansou do espetáculo da lama e, por isso, ofende impunemente criando esse clima geral de indignação e de incertezas onde pretende pescar sua oportunidade.

Engana-se ele se imagina que isso lhe constrói boa imagem. Pois assim falante e destramelado acabará, eleito ou não, tragado pela mesma voragem que está construindo, assim como outros de seus pares, matreiros nas insinuações que não provam, nas leviandades que não pronunciam por completo, nas suposições e reticências de um discurso que não explica para que vieram a não ser para complicar sempre mais o quadro de nossa política de mexericos e futricas.

Não se trata aqui, caro leitor e eleitor, de fazer a defesa do governo que aí está, como diria Lula em seus bons tempos. Trata-se, sim, de lutar por um tipo de perfil de homem público capaz da serenidade, do rigor ou da complacência com a justiça dos justos, sem esse faroleiro festival de acusações, idas e vindas, insinuações e meias verdades, mirabolantes cálculos sem a prova que os credencia a merecer a confiança dos cidadãos de bem, trabalhadores por um Brasil melhor, mais justo e, também, mais severo com todos esses sinais de decomposição moral e social. Que Ciro prove o que diz ou se retire. Já.

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