A Telefónica, que anunciou neste fim de semana em Madri a compra do grupo controlador da Telecom Italia, já prepara sua estratégia de defesa contra o tiroteio que deverá sofrer no Brasil. Dona da Telefônica, empresa de telefonia fixa de São Paulo, a espanhola divide com a Portugal Telecom o controle da operadora Vivo, líder no mercado celular no Brasil. A Telecom Italia, por sua vez, participa do bloco de controle da Brasil Telecom (BrT) e é dona da TIM celular, segunda colocada no ranking de telefonia móvel. Com a compra na Europa, o grupo ficará com 54% do mercado de celulares no Brasil.
A concentração de mercado pode levar o governo brasileiro a obrigar o grupo a se desfazer de alguma companhia no País. Para se precaver, a Telefónica montou uma estratégia para convencer as autoridades de que as companhias não terão gestão conjunta. No comunicado divulgado em Madri há um trecho direcionado ao mercado brasileiro, frisando que Telefónica e Telecom Itália ?serão geridas autônoma e independentemente?. A Pirelli, acionista majoritária da Telecom Italia, aceitou a proposta da Telefónica de compra, por US$ 5,6 bilhões. A Telefónica passa a liderar, com 42,3%, um consórcio chamado Grupo Telco que reúne Generali (28,1%), Mediobanca (10,7%), Intesa (10,7%) e Benetton (8,2%). As cinco detém 18% da Olimpia, controladora da Telecom Italia. A Telefónica detém 5,6% na TI. Com isso, sua participação na holding fica em 23,6%.
O negócio deve tumultuar o quadro de telecomunicações nacional. ?A regulação do setor se sobrepõe a qualquer avaliação. Se não é permitido pelo órgão regulador, acho muito difícil que as empresas consigam se manter nos mesmos negócios no Brasil?, diz o professor de economia Cláudio Considera, ex-titular da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda.