Tecnologias e docência: os professores têm medo da máquina?

A inserção das tecnologias no ambiente educacional é talvez, hoje, um dos temas mais discutidos na Educação. É defendida por aqueles que vêem nessa inovação possibilidades de elaborar práticas pedagógicas em consonância com a complexidade e diversidade da sociedade contemporânea e, por outro lado, é atacada sob acusações de configurar um novo tecnicismo, auxiliando o estabelecimento de uma nova desumanização.

Como lidamos com mudanças devidas às novas relações que o desenvolvimento tecnológico configurado nas chamadas TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) impõem, fenômenos sociais relacionados a essas realidades emergentes estão ainda em ebulição.

Mas, para um início de conversa, digamos, selecionemos uma temática instigante e complexa, que atinge diretamente as nossas escolas: a utilização das TICs pelo professor, mais especificamente os computadores. Os professores sempre estiveram na escola. Os computadores estão chegando… E agora? Configuremos uma problemática. Recente pesquisa realizada com os professores das escolas na região italiana do Vêneto trouxe o seguinte resultado: embora os professores utilizem o computador e seus recursos em sua vida cotidiana (acessos à internet para ?surfar?, jogar, trocar e-mails, comprar, pagar contas, conversar em salas de bate-papo ou pesquisar), se negam a utilizar as máquinas na escola, alegando desconhecimento das tecnologias e de suas possibilidades didático-pedagógicas!

Por que a escola pode constituir-se, algumas vezes, num lugar difícil para o diálogo com a sociedade? De certo modo, parece que estamos repetindo aqueles tempos em que os educadores discutiam calorosamente o impacto da televisão nos processos educativos de nossas crianças e jovens. E a entrada dos aparelhos de TV nas escolas? Depois as antenas parabólicas, vídeo-cassetes, DVDs…

Se olharmos a história do relacionamento do homem com a maquinaria, podemos rememorar as destruições ou o ?quebra-quebra? de máquinas feitos pelos pioneiros operários no cenário da Revolução Industrial, que atemorizados com as conseqüências que seu uso traria, eventualmente, substituindo a mão-de-obra humana! As geniais invenções, embora idealizadas e construídas para poupar esforço, ganhar tempo e liberar os indivíduos para tarefas mais nobres, podem ser vistas como ameaças. Ou seja, o ideal clássico de que as máquinas poderão libertar os homens para a contemplação e a reflexão é possível de configurar no contexto da modernidade capitalista? Aristóteles, Marx, De Masi… nos ajudem!

Se existem, que espécies de medo motivam o professor à negação da incorporação dos computadores à sua prática pedagógica cotidiana? De fato, em instituições educacionais de todos os níveis, da educação infantil às universidades, a adesão docente aos programas e projetos que utilizam as TICs em processos de ensino e aprendizagem é, entre nós, baixa. Não temos, ainda, como na Itália, suficientes estudos para discutir os porquês da não-utilização midiática nos ambientes escolares. Mas sabemos que, independente de nossa condição de país pobre, a difusão das tecnologias (computadores e celulares, por exemplo) em todos os grupos sociais, quer de baixa como de alta renda, é processo galopante.

Avanços sob a perspectiva da docência são necessários. Como dialogamos com as crianças e jovens que trazem seus celulares para as salas de aula? Como nos comunicamos? Mais especificamente, como trabalhamos formalmente através de nossa língua portuguesa em sala de aula, considerando que, simultaneamente, outros usos e convenções lingüísticas já estão presentes no repertório comunicativo de nossos alunos, compartilhado nos ambientes virtuais?

Uma coisa é certa, sendo também indicada na pesquisa citada: a formação dos professores é carente quanto aos aspectos de natureza relacional. Descobriu-se mais: na complexidade da sociedade contemporânea, o professor não sabe como se relacionar com as crianças e jovens, com seus pares e com as famílias. Porém, fala, ?da boca pra fora?, que a demanda de formação mais necessária é aquela tratando de conhecimentos relacionados às disciplinas, questões teóricas, de conhecimento científico. Se os professores italianos são assim, como é que nós constituímos nosso discurso sobre as tecnologias e a educação?

Ademir Valdir dos Santos. Docente e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná.

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