Adultos e crianças que freqüentavam a praia de Guaratuba, nesta sexta-feira (13) à tarde, pararam por cerca de meia hora para assistir à peça teatral que trata da violência contra crianças e adolescentes, promovida pelo Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima de Exploração Sexual e Maus Tratos). ?Há uma grande concentração de pessoas no litoral e com uma apresentação só a gente consegue atingir um grande público?, comentou a delegada Ana Cláudia Machado, titular do núcleo.

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Segundo ela, as pessoas sabem do problema e sabem da relevância de denunciar, ajudando a unidade policial. ?A cada caso que a gente fica sabendo, 20 ocorrem sem que a polícia seja comunicada e, com o teatro e com a informação, as pessoas vão se conscientizar mais da importância em procurar a polícia. Assim, vamos conseguir responsabilizar quem pratica crime contra criança e adolescente?, afirmou.

Nas próximas duas sextas-feiras, dias 20 e 27, às 17h, o grupo de teatro estará novamente na areia da praia. A peça, uma iniciativa inédita, pretende educar e ao mesmo tempo orientar na prevenção de crimes contra crianças e adolescentes. Só no ano passado, apenas em Curitiba, houve 700 notificações. As apresentações seguintes serão, respectivamente, em Caiobá e Shangrilá, sempre no palco de eventos da Paraná Esporte.

A delegada explicou que, dependendo da receptividade do público, a peça será levada a outros locais de concentração de pessoas para que a prevenção seja maior. ?Só em Curitiba no ano passado foram mais de 700 notificações deste tipo de crime, o que significa dizer que temos mais de 14 mil crimes desses só em na capital. Quando mais as pessoas estão informadas facilita a denúncia?, disse Ana Cláudia.

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Prevenção

A peça traz dicas simples, como não aceitar doces de pessoas estranhas, não aceitar caronas e até como a criança deve agir caso seja molestada sexualmente. ?Na delegacia, já tivemos vários casos de abuso sexual em que a pessoa ofereceu brinquedos. A criança foi levada até um local ermo e o crime foi praticado?, explicou.

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Numa das cenas da peça, uma criança fica sem saber o que fazer para se livrar do abuso sexual dentro da própria casa. Com medo, a menina tem receio de ser desacreditada. A dica dos atores é simples: contar para a professora. ?Os professores são capacitados também para ajudar numa situação como esta e, assim, que recebem uma informação dessas, levam a criança até uma rede de apoio e ela passa a ser protegida?, disse a delegada.

A violência doméstica, resultado do desajuste familiar ou da bebida em excesso também é tema da peça, bem como os riscos de viver nas ruas após uma eventual fuga de casa para tentar pôr fim a algum tipo de sofrimento. No fim da peça, os ?mascotes? do Nucria, Bia Sabida e João Esperto, dão mais conselhos às crianças, de forma leve e educativa.

Pesquisa

A diretora e roteirista da peça, Marisa Lobo, conta que tudo o que é apresentado foi resultado de pesquisa realizada dentro da delegacia. ?Foram feitas reuniões com os atores, que são todos voluntários, e com todos estagiários da delegacia. A pesquisa foi a fundo no que realmente acontece. Os pontos mais fortes são a violência doméstica e o abuso sexual?, disse a diretora.

Marisa lembrou que o abuso sexual ocorre em qualquer classe social e é um assunto do qual praticamente não se fala. ?A peça choca e ao mesmo tempo faz rir e mostra a situação triste de uma maneira preventiva. A gente buscou levar esses assuntos chocantes demais de uma forma leve até às crianças e aos adolescentes. A violência doméstica acontece dentro de casa. É uma peça de conscientização para os pais e de prevenção para as crianças, para que elas possam se defender?, explicou.

Receptividade

Crianças e adultos pararam para ver a primeira apresentação da peça, em Guaratuba. Concentradas nas dicas e na fala dos personagens, meninos e meninas de todas as idades parecem ter entendido o recado. Houve quem derramasse lágrimas. Aos oito anos, Patrícia disse que ficou triste quando viu a cena do pai que chegou em casa bêbado e bateu na mulher e nos filhos. Ela também contou que se emocionou na cena em que a menininha conta ter sido vítima de abuso sexual. ?Vou seguir os conselhos?, afirmou.

Adultos que assistiram à peça gostaram do trabalho de orientação que está sendo feito pelo Nucria. A professora Maria do Carmo Assis acredita que este tipo de orientação irá evitar muitos crimes, principalmente os que são cometidos dentro de casa e por pessoas próximas à criança, até mesmo pelos pais. ?São coisas que a gente não consegue entender?, disse.