O ministro da Justiça, Tarso Genro, considerou normal a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de mandar investigar possíveis denúncias de excesso na Operação Navalha. Genro admitiu que "possa ter ocorrido algum equívoco, algum vazamento" e explicou que, no caso de "alguma lesão de direito individual, isto deve ser corrigido". O ministro prometeu investigar "no momento em que recebermos uma denúncia formal" e acrescentou que a "a Polícia Federal tem os mecanismos específicos para fazer isto. A determinação (do presidente) é uma rotina e será cumprida rigorosamente".
Ao fazer a primeira visita de um ministro ao trabalho da Central Única de Favelas – Cufa (ONG criada pelo rapper MV Bill), na Cidade de Deus, na zona oeste, Genro fez questão de lembrar que "o trabalho da Polícia Federal foi bom, correto, positivo. O que há é um certo estranhamento, e este estranhamento é normal, pois o Estado brasileiro nunca teve uma vigilância e uma ação tão grande, corretiva, como está tendo agora".
Esclareceu que esta ação corretiva não é nova, "vem de dez anos, só que nos últimos quatro anos a Polícia Federal foi mais aparelhada, melhorou sua qualificação, tem tecnologias mais avançadas, então os resultados são mais efetivos". Admitiu, porém, "que em um determinado inquérito possam ser cometidas injustiças. Isto ocorre, efetivamente, em todos os Estados e em todas as polícias".
Genro fez questão de frisar duas vezes que a Operação Navalha "não é nova, não começou com minha entrada no ministério da Justiça. Ela tem mais de ano e foi religiosamente cuidada pela Procuradoria e pelo Poder Judiciário.
O ministro não quis polemizar com o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que classificou como "canalhice" o vazamento de informações de inquérito em segredo de Justiça. "É um assunto do relacionamento entre dois Poderes e não é recomendado que dois Poderes deste estatuto façam um debate público, pelo jornal, a respeito desta questão", esquivou-se.
O ministro do STF irá formalizar a queixa, segundo Genro. "Eu já disse para o ministro Gilmar Mendes – e ele vai me fazer uma representação – que ele me aponte aonde houve vazamentos que vamos tomar providências". Também não quis entrar na polêmica entre o Supremo e a Procuradoria Geral da República. "Não se trata de uma polêmica pessoal ou ética, mas um debate jurídico sobre a questão dos habeas corpus e dos procedimentos que ocorreram. Esta polêmica tem que ser resolvida entre eles. Se há alguma requisição para a Polícia Federal, façam que será cumprida".
O ministro também admitiu que "alguma fonte interna da Polícia Federal, de maneira irregular, tenha passado algum dado, algum elemento do inquérito" para jornalistas. Ressaltou que é função dos jornalistas buscarem as informações. "Se isto ocorreu, isso deve ser corrigido", disse, garantindo, porém, que "a instituição Polícia Federal, a direção e seus delegados que estão operando no inquérito, comprometidos com a Operação, que representam a instituição, não fizeram nenhum vazamento".
Ele mandou buscar o discurso do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), no qual ele teria denunciado a Polícia Federal por beneficiar a TV Globo. "Se for efetivamente uma denúncia, ela será investigada. O Estado, o Poder Público, tem que se pautar dentro do princípio da igualdade formal. Não pode ser passada informação privilegiada, seja para rádio, televisão, cadeia nacional ou internacional. Por que isto desequilibra o direito de informação, o direito de informar que a imprensa tem. Uma imprensa democrática tem que ser tratada de maneira igualitária pelo poder público".