As tarifas vão permanecer como os vilões da inflação em 2005, assim como ocorreu no ano passado, mas poderão concorrer com alguns fatores imprevisíveis na hierarquia de pressões sobre os índices de preços. O consultor do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Eduardo Velho, avalia que não há qualquer descontrole previsto para a inflação brasileira neste ano, mas a meta rigorosa de 5,1% estabelecida pelo Banco Central, exigirá um monitoramento atento e permanente dos núcleos da inflação e do ritmo de aquecimento da economia.
Para o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-RJ, as pressões tarifárias vão continuar, mas poderão sofrer a "concorrência" dos serviços, que com o aumento da renda poderão vir a pressionar a inflação. Velho lembrou que a trajetória de inflação no País é de queda, mas o núcleo – que elimina as 20% maiores e 20% menores variações de preços do mês – , especialmente dos preços livres (definidos pelo mercado), continua pressionado.
Segundo ele, para que a variação dos preços livres seja de 4,1% em 2005, como projeta o BC, seria necessária uma variação média mensal de 0,34%, objetivo que o núcleo do Índice de Preços ao Consumidor -15 (IPCA-15) de dezembro, com núcleo dos preços livres de 0,60%, mostra que exigirá empenho para ser alcançado.
Como ponto favorável para redução da inflação dos livres ele citou a queda na cotação das commodities agrícolas, que já começam 2005 em nível de preços médios bem inferior ao do ano passado. Cunha também cita a queda das commodities como um dos pontos mais favoráveis para o comportamento da inflação neste ano.
Velho lembra que a variação de 7% a 7,5% prevista para os preços administrados (monitorados pelo governo) em 2005 não deverá surpreender. As elevações das tarifas de energia elétrica e ônibus urbanos, por exemplo, deverão exercer as maiores pressões de alta anual sobre a inflação, como já é esperado.
Para ele, o ponto indefinido, no caso dos administrados, está nos combustíveis. Ainda que a tendência do preço do barril do petróleo seja de queda, o economista lembra que essa é sempre uma aposta incerta no horizonte inflacionário. "O que o BC terá de administrar são os riscos, que dependem da demanda e oferta e têm impacto relevante da política monetária", disse.
Para o economista, se o ritmo do crescimento econômico for muito intenso, poderão ocorrer reajustes de preços, pressionados pela forte demanda e oferta reduzida diante dos investimentos aquém do necessário na expansão da indústria.
