Tarde ou nunca

O Brasil costuma dizer-se país do futuro e há gente lá de fora que acredita nessa perspectiva. Expressões populares, muitas delas traduzidas em letras de músicas, reafirmam tal otimismo ou essa conformação com a ausência hoje do que agora precisamos porque um dia aqui será o paraíso do planeta. ?Amanhã será outro dia?; ?Esperando o trem, esperando o aumento para o mês que vem?; ?É fé em Deus e pé na tábua?. Não há nada de mal em ser otimista. Antes pelo contrário, é bom. Ruim é quando esse otimismo não tem correspondência nos fatos e nos conformamos em ver eternizarem-se nossas expectativas. Mais uma vez o ?gigante deitado eternamente em berço esplêndido? bocejou e não saiu do lugar. Mas há um discurso otimista para o futuro, de forma a anestesiar as dores do presente.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará hoje, quarta-feira, uma péssima notícia. Refere-se ao resultado do aumento do PIB, a soma de tudo o que o País produziu em 2006. Ficará abaixo de 3%. Tudo indica que o País cresceu no ano passado apenas 2,7%. A Cepal achava que seriam 2,8%. Seja 2,7% ou 2,8%, o desempenho repetirá a posição constrangedora no ranking das economias latino-americanas. Superará apenas o Haiti (2,5%), país do Caribe que não é exatamente latino, embora se encontre abaixo do Rio Grande, acima do qual se encontram economias possantes como as dos Estados Unidos e Canadá. O Haiti é tão pobre e vive uma eterna situação de instabilidade política e social. Tanto que o Brasil lá está, com suas tropas, sob a bandeira da ONU, procurando evitar que acabe por inanição ou que uns matem os outros e cheguem à barbárie. Aliás, o Brasil, com a violência generalizada dos últimos tempos, está sendo um grande Haiti. Embora de se aplaudir a nossa solidariedade àquele pobre povo, oxalá não cheguemos um dia a precisar de ajuda semelhante para acabar com a nossa pobreza, criminalidade e conflitos sociais.

O Haiti mostra um desempenho de 2,5%. Estamos bem perto, se bem que ainda um naquinho melhores.

A República Dominicana, que ocupa uma parte da Ilha Hispaniola, onde fica o Haiti, cresceu no ano passado 10,7%; a Venezuela, 10,3%; a Argentina, 8,5%; o Uruguai, 7,3%, e até o Paraguai nos deu de goleada, com um crescimento de 4%. As autoridades da equipe econômica brasileira já preparam o discurso que irão divulgar. Dirão, em uníssono, que a situação neste ano de 2007 será diferente. Exibirão a bandeira do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) como o estandarte do milagre e anunciarão crescimentos mais expressivos, se bem que ainda nanicos, de 4 a 4,5% em 2007 e 5% em 2008. Continuaremos sendo o país do futuro. O que nos preocupa é uma verdade um dia dita pelo então ministro Delfim Neto, homem da ditadura militar que hoje apóia Lula. Para ele, ?no futuro, todos estaremos mortos?.

Se formos nos comparar aos países do Bric, sigla que reúne as letras iniciais das quatro principais economias emergentes do mundo, ficamos como anões diante de gigantes. A China cresceu 10,7%; a Índia calcula que cresceu 9,2%; a Rússia, 6,8%.

Estamos perdendo o bonde da história e não é mais hora de fazer promessas futuras. É hora de olharmos o nosso modelo de desenvolvimento ou a falta de modelo de desenvolvimento e procurar caminhos que já tenham sido provados em algum lugar do mundo e que dão certo. O que não pode continuar é a repetição de fracassos, de discursos falsos e promessas vazias. Desculpas que não enchem a barriga de ninguém e só servem para ganhar eleições. Aí, enchem as barrigas dos políticos eleitos.

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