Depois de 3 anos, 8 meses e 22 dias do assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen e de mais de 50 horas de julgamento, a filha do casal, Suzane, foi condenada a 39 anos e 6 meses de prisão (19 anos e 6 meses pela morte do pai e o mesmo tempo pela morte da mãe) e 6 meses por fraude processual (revirou a casa para simular um latrocínio). O ex-namorado dela, Daniel Cravinhos, foi condenado à mesma pena. E o irmão dele, Christian terá de cumprir 38 anos e 6 meses de prisão – 18 anos e 6 meses por assassinato, 1 ano pelo furto de jóias do casal e 6 meses pela fraude. Eles poderão, no entanto, ter a prisão relaxada em menos de quatro anos.

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Suzane já ficou presa por 2 anos e 9 meses e os irmãos, por 3 anos e 7 meses. Em tese, poderão pedir progressão para o regime semi-aberto após um sexto da pena. No caso da jovem, faltariam 3 anos e 7 meses. Para Daniel, 2 anos e 9 meses e para Christian, 2 anos e 7 meses.

Muitos juízes paulistas, porém, não têm concedido o benefício para autores de crimes hediondos. Se o juiz negar o pedido, poderão recorrer em segunda instância e a tribunais superiores. Por lei, autores de crime hediondo só têm saída garantida após dois terços da pena.

A sentença foi lida pelo juiz Alberto Anderson Filho, do 1º Tribunal do Júri, às 2h09 de ontem. Suzane quase foi absolvida pela morte do pai. Nas duas primeiras perguntas sobre as teses da defesa, os jurados entenderam que ela agiu coagida por Daniel. Nas quatro seguintes, consideraram que essa coação não era irresistível, ou seja, teria outra alternativa – o que consumou a condenação. Perguntados sobre a morte da mãe, os jurados disseram, logo de cara, que Suzane não foi coagida.

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Diante desse quadro, a defesa da jovem rachou. O advogado Mário Sérgio de Oliveira entende que o júri é nulo porque há uma contradição evidente. O outro advogado, Mauro Otávio Nacif, não vê nulidade. ?Isso é normal no júri. Quando jurados percebem que acabaram condenando o réu por uma vítima, sentem-se mais livres para condenar por outra vítima. A porteira já foi aberta?, disse Nacif.

?As duas mortes foram um evento só, eles não poderiam ter entendido diferente?, analisou Oliveira. Para Nacif, ?o que vale é o resultado do final da série de perguntas?. Nos dois finais, ela foi considerada culpada. Os dois defensores se reunirão com o protetor de Suzane, Denivaldo Barni, na terça-feira para decidir sobre o recurso.

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As qualificadoras – motivo torpe (a jovem queria a herança), meio cruel (barras de ferro e asfixia) e recurso que impossibilitou a defesa da vítima (o casal estava dormindo) – foram reconhecidas para os três réus. Houve também circunstâncias atenuantes: os três confessaram e Suzane tinha menos de 21 anos na época do assassinato.

Prisão – Após o julgamento, os Cravinhos foram para a Penitenciária 2 de Tremembé. Os pais, Astrogildo e Nadja, falaram com o juiz. ?O resultado foi melhor do que eu esperava. Muito obrigada?, disse a mãe. ?Força para os senhores?, respondeu Anderson. ?Eles fizeram grande besteira, mas são pessoas que se acertam?, completou. ?É, um dia passa?, suspirou Nadja.

Os três ficaram impassíveis durante o veredicto. Ao lado do juiz a pesquisadora de homicídios Ilana Casoy ficou de frente para os réus. ?Ninguém esboçou reação. Estavam respeitosos, de cabeça baixa.? Segundo Ilana, a posição dos três foi simbólica. ?Daniel sempre ficava no meio de Suzane e Christian. Na sentença, foi a primeira vez em que Christian estava no meio. O casal quebrou.

Suzane foi para o Centro de Ressocialização de Rio Claro. Antes de sair do fórum, despediu-se de Barni. ?Você vai me visitar logo??, perguntou. ?Vou, daqui a algumas horas?, respondeu Barni. Ontem à tarde, Barni não sabia dizer como foi o primeiro dia de Suzane em Rio Claro. ?Ela deve ter continuado chorando.? Segundo a advogada Maria Aparecida Cardoso, que representa Andreas, o tio de Suzane Miguel Abdalla considerou as penas brandas, mas acha que a condenação diminui a angústia da família.

Todos os advogados afirmaram que o tempo de defesa de seus clientes foi insuficiente. ?Foram três horas de acusação e nós só tivemos uma hora e meia. Se tivéssemos mais tempo, conseguiríamos a absolvição?, disse Oliveira. A advogada Gislaine Jabur, representante dos Cravinhos, admitiu que a condenação era prevista, mas Reclamou. ?Sinto que meu pai (Geraldo Jabur) perdeu 45 minutos da fala dele para Nacif.

?Eu esperava mais?, disse o promotor Roberto Tardelli. Ele disse que vai ?avaliar a relação custo-benefício? de recorrer. ?A sociedade pode dormir em paz, tranqüila, porque a assassina está atrás das grades?, disse o promotor Nadir de Campos.

Os advogados de Suzane mostraram, no julgamento, uma petição em que a jovem renunciava à herança. O documento foi protocolado, mas a desistência ainda não foi formalizada com assinatura da jovem e, portanto, não tem validade.

Para os juristas Luiz Flávio Gomes e Paulo José da Costa, a condenação foi justa. ?Assisti ao julgamento e o juiz foi equilibrado?, disse Gomes. Para Costa, a promotoria e os advogados se preocuparam demais com os holofotes. ?Achei terrível a postura deles. O juiz era bom, a pena é justa, mas a procura pela mídia foi excessiva.? (Colaboraram Camilla Riggi e Keila Jimenez.